Eis que chegamos às últimas apresentações de NÃO DOIS nesta primeira temporada. E como foi interessante. Receber um público outro, se confrontar com a repetição daquele jogo que havíamos feito tão poucas vezes. Na verdade, ainda é pouco, é preciso fazer mais e mais vezes. Porém, nessas apresentações acabamos dilatando a compreensão nossa sobre o material. Eu começo a ter mais clareza do que possa ser… E isso pressupõe ainda mais trabalho.
Sobretudo, nestas apresentações, nos debatemos muito com a questão do ter que fazer sentido. Durante o processo, fomos guiados pelo movimento, simplesmente pela movimentação do corpo sem pressupor sentido. Um corpo movente sem significado. De um braço que ia e voltava, sem falar nada (e falando tudo, ao mesmo tempo). Agora, percebemos como queríamos dotar cada investida física de intencionalidade. E percebemos também, inevitavelmente, como isso não diz nada para o nosso espetáculo.
Acreditar no que não está dito, acreditar no que se pode sugerir, naquilo que se pode evocar. Acreditar no espectador também como autor do espetáculo. Abrir vias para que escreva, por meio dos corpos dos atores, a sua própria leitura do espetáculo. A sua própria leitura de mundo.