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quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

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domingo, 6 de dezembro de 2009

# 29

29 de novembro de 2009 - S.404/UNIRIO - 10h/14h
dan marins, diogo liberano e natássia vello.

. neste encontro fizemos apenas dois passadões e mais ajustes. a mesma idéia do ensaio anterior, responsabilizar os atores por aquilo que eles sabem que deve ser feito. as melhorias estavam ficando visíveis. trabalhamos as brigas de casal, por assim dizer;

. a natássia trouxe um tom mais grave para a voz, o que provocou uma guinada no todo, assustador. ela ficou menos frágil e o jogo ganhou mais em relação. pontuei ao dan alguns momentos em que o descontrole do personagem dele poderia aparecer, sob uma forma mais grave, mais gritada mesmo;

. depois destes ensaios de sábado e domingo, tive que ir para a faculdade finalizar o cenário, que não ficou pronto até o dia da apresentação.


# 28

28 de novembro de 2009 - S.407/UNIRIO - 10h/14h
dan marins, diogo liberano e natássia vello.

. a partir dos comentários recebidos nos ensaios anteriores, selecionei aquilo que julguei ser mais essencial e trabalhei neste último fim de semana sobre estas mudanças;

. o ensaio deste sábado foi a partir de música. havia usado trilha em um ou dois ensaios e de forma bem comedida. neste ensaio, porém, começei fazendo um passadão com trilhas que eu ia colocando na hora. a idéia era que os meninos fosse jogando com aquilo que a música provocasse neles;

. dentre as trilhas, utilizei: OLDBOY, CIDADE DOS SONHOS, LAVOURA ARCAICA, GAIVOTA - TEMA PARA UM CONTO CURTO, MARIA BETHÂNIA e PEQUENA MISS SUNSHINE;

. passamos por cada movimento e ajustamos coisas específicas. fechamos o epílogo de forma mais acertada e precisa. o negócio era tornar os meninos responsáveis pela cena. tirar de mim a necessidade de ter que dizer que algo estava errado. eles deveriam saber disso, não mais eu. responsabilizar-se.


# 27

27 de novembro de 2009 - S.111/ECO/UFRJ - 18h30/22h
dan marins, diogo liberano, josé henrique moreira, júlia marini, marcellus ferreira, marina viaana, natássia vello e vinicius arneiro.

. ensaio cheio de gente amada e atenta. fizemos um passadão e, em seguida, aproveitei para ouvir os comentários dos professores orientadores (zé e marcellus) e depois, os comentários do amigo ator e diretor vinicius arneiro;

. ao término do passadão, algo ficou colado na minha cabeça. BRIGA DE CASAL. era o que estava faltando para NÃO DOIS. eu precisava orquestrar com eles essa possibilidade, tornar isso concreto. romper o balé das marcas e ganhar a relação. tudo estava muito tranquilo, muito controlado;

. dos comentários do professor José Henrique Moreira, ressalto:
. o zé também reconheceu isso da briga de casal e sugeriu que eu selecionasse trechos e os trabalhasse; sugeriu que eu cortasse alguns trechos e que tivesse clareza que em alguns momentos, algo precisa ser dito e algo é importante de ser ouvido; sugeriu também que num dado momento a fala ganhasse das partituras, que o texto ficasse maior, mais forte, mais descontrolado a ponto de pausar o movimento; sugeriu possibilidades várias para o movimento de abertura dos braços (no segundo movimento, quando natássia sai de dentro da estrutura falando trechos do texto do dan); me pediu que descentralizasse a partitura, que aproveitasse um pouco mais o espaço, como se eu devesse deslizar a partitura do centro, causando uma desestabilização; e me chamou atenção para o piso que eu planejava colar no chão. me disse que isso poderia ser problemático visto que os atores precisavam muito do atrito com o chão de madeira.
. depois, foi o vinicius que comentou algumas coisas, segue:
. achou que o prólogo deveria vir num crescente e não começar acelerado, mas ir se acelerando; sugeriu que tivéssemos clareza do sentido de cada repetição da partitura, para que valorizássemos a repetição e não caíssemos num jogo de meras repetições; chamou atenção para a respitação do dan e para a articulação e projeção da natássia; sugeriu que eu fizesse um desenho mais atento da partitura vocal dos atores. assim como havia uma partitura física, me sugeriu que eu desenhasse com eles uma partitura das falas, com as nuances marcadas na fala, reveladas pela fala; falou do gráfico do espetáculo; sugeriu que o monólogo do pai fosse dado apenas para o dan, visto que é memória, é algo que ele lembra; e por último, falou dos movimentos do espetáculo, que sugeriam DISTANCIAMENTO ou APROXIMAÇÃO DA NARRATIVA, chamando atenção com isso para o tempo e como o tempo era usado.
. entrei em contato com a verônica e ela topou fazer o projeto, mesmo tendo eu feito o convite tão em cima, como sempre. combinamos de trabalhar com os meninos a partir de segunda ou terça, para a estreia na quarta;

. neste dia também, a júlia já experimentou várias possibilidades modelando o corpo da natássia. comprei libes e meias-calça e ela desturpou todo o corpo dela, meio que manipulando os seios e apertando-os e os tirando de sua forma original. uma primeira tentativa. que só poderia ser terminada na terça-feira, um dia antes da estréia;

. a queridíssima marina vianna assistiu e anotou mil coisas, mas só conversaríamos depois.


# 26

26 de novembro de 2009 - S.505/UNIRIO - 22h/23h
dan marins, diogo liberano, júlia marini e natássia vello.

. a amiga atriz e figurinista júlia marini veio a assumir o figurino de NÃO DOIS apenas 6 dias antes da estreia. um crime, reconheço. mas ela foi tão rápida em tudo que é difícil acreditar. falei com ela na quarta e nesta quinta, dia 26/11, ela já havia conversado comigo, trocado mil idéias, proposto mil coisas e aproveitou para ver um passadão de 22h às 23h, na Unirio;

. ao ver o passadão, percebi como alguns textos ainda estavam muito duros e como o tom da natássia estava um pouco distante do que julgava necessário. a sua voz me soou, durante o ensaio, aguda demais, gritada, estrangulada;

. júlia pontuou coisas incríveis e foi quando percebi que ela havia sido a primeira pessoa "de fora do processo" (até então) a assistir um passadão. ela disse:
 . que o dan deveria investir mais em sua rispidez ao passo que natássia deveria investir mais no seu estado lânguido, quase morto;
. afirmou que ele precisava em certos momentos se mostrar realmente mais ameaçador, enquanto a natássia deveria estar atenta ao texto que era dado de costas para o público, porque não era audível;
. sugeriu que o monólogo do pai fosse dado para a platéia, para que não privássemos o espectador deste momento em que o personagem masculino se fragiliza;
. e pontuou a necessidade da natássia ficar atenta às suas mãos, que tivessem sempre ligadas, com energia.
 . ao término do ensaio, ficou explicitamente evidente a necessidade de uma preparação vocal instantânea. ligaria, sem duvida, para a amiga e excelente fonoaudióloga, Verônica Machado.


# 25

25 de novembro de 2009 - (UNIRIO) - 10h/14h
dan marins, diogo liberano e natássia vello.

. neste encontro trabalhamos um pouco mais do prólogo e finalizamos uma primeira versão do epílogo, a partir do que dan e natássia tinham experimentado sozinhos no ensaio anterior. como sempre, trabalhamos primeiro a partitura e depois inserimos o texto, o que nos dava sempre uma alterada boa no texto, já que este ficava sambando no meio de tantos movimentos e ações;

. no epílogo, apostamos numa inversão de papéis. ELA começa a agir como se fosse ELE, logo, ELA passa a ser o agente da violência, enquanto ELE é o ser violentado. mais do que isso, também encontramos a simultaneidade de movimentos dos dois que de alguma forma pudessem dizer que ambos batiam e sofriam a violência. ELA/ELE atacando, ELA/ELE sofrendo o ataque;

. a natássia teve que começar a gerir sua força para que pudesse soar minimamente plausível a guinada de sua personagem. pedi ao dan que facilitasse o jogo um pouco, mas isso ainda não ajudou muito. ELA precisaria usar realmente sua força;
 
. o momento mais incrível é o descolamento d'ELA da partitura. ELE lança sua cabeça para o lado e é ELA quem a ergue de volta, sem sua ajuda, deixando a mão d'ELE parada. é o que marca a mudança de controle da situação.
 
 

sábado, 5 de dezembro de 2009

primeiras impressões

bom, encerrou-se a pequena temporada de três apresentações na UFRJ. nos apresentamos na quarta (02/12) às 18h e na quinta (03/12) às 17h e 19h. foram três apresentações muito parecidas. o espetáculo tem um pouco mais do que 30 minutos. vê-lo três vezes me fez pensar que talvez agora eu possa começar a compreender o que ele é. ou, talvez, o que ele pode vir a ser.

muitas intenções, muitas buscas, muitas tentativas só nas apresentações vieram a se concretizar. muito do que foi pedido aos atores durante o processo só veio no dia, mas veio tudo tão puro, tão genuíno, tão essencial. uma felicidade tamanha a minha, porque era visível que o nosso esforço de criar revelações também causava algo em quem assistia. não quero avaliar positivamente ou negativamente, mas sim expor um pouco do que vi. um pouco do que foi compartilhado. do que foi sentido.

o que mais ouvi sem dúvida foram comentários que esbarravam no vazio, na forma em como os personagens lidavam e falavam de algo que já passou, algo este impossível de ser revivido. me encontro então com a idéia inicial de não tentar expor o que foi, porque aquilo que foi já se acabou. e a peça (talvez a luz branca, excessivamente fria) foi se revelando mais com esse distanciamento, com essa emoção contida, quase seca, quase inexistente. senti uma peça de palavras, um longo poema de 30 minutos. quando os corpos começam a esquentar, tudo acaba. tudo se consome. também a liberdade. também a memória.

comentários variados. impressões variadas. todas sendo reunidas e conversadas. porque faz parte do processo. agora que nasceu, é preciso educar. mas não podando, não cortando. e sim aperfeiçoando, ensinando a caminhar sem minhas mãos. ensinando a se descobrir. ir permitindo o voo.



 



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quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

pré... pós... tudo...

amanhã. digo, hoje, é a estreia de NÃO DOIS. é difícil dizer NÃO DOIS e não PAS-DE-DEUX. mas logo o trabalho já vai ter se apresentado a um público maior do que aquelas pessoas na sala de ensaio. e que venham várias apresentações. várias.

faltam muitas coisas. figurinos, detalhes, cenário, cenário, cenário. acabei de finalizar os acabamentos nos refletores. e a sensação de que falta tudo ainda é grande. daqui a algumas horas vou acordar e ir para a ECO esperar o cara responsável por desenvolver a estrutura, ou, ESTORTURA. ela foi feita com um erro. está 20cm a menos do que precisamos. ou seja, leva de volta e vamos consertar.

vamos indo que a coisa acabou de começar...
.

# 24

24 de novembro de 2009 - (UNIRIO) - 20h/23h
dan marins e natássia vello.

. eles ensaiaram sozinhos. mais uma vez, não conseguiram cumprir com as solicitações. mas fizeram algo que eu trabalhei no ensaio seguinte. pedi que fizessem uma composição para o EPÍLOGO: A CENOGRAFIA DO ACONTECIMENTO. deveriam se pautar em:

. usar o texto do epílogo;
. ter no máximo 3 minutos de cena;
. propor uma inversão da sequência de movimentos (ELA age como ELE e ELE como se fosse ELA).

. segue-o:
EPÍLOGO. Cenografia do acontecimento

ELA Lá, nas nossas intensidades, focos de luz deformando nossos rostos, a maca em posição inverossímil, a eletricidade e seu protagonismo, as pancadas secas, algodões e o cheiro de sangue coagulado, desafio aos limites de hoje e um pouco mais, os suores frios, a morte espreitando, a música que parecia nascer dos nossos próprios corpos. Nos enganamos quando pensamos que nós é que gerávamos as paixões e a energia, porque quando todo o dispositivo desaparece nos encontramos só com nossa nudez, você e eu, descobrimos com horror que as paixões tão nossas faziam parte da cenografia do acontecimento. Por isso hoje só você e eu enfrentamos o vazio da perda do sentido, e isso é insuportável. Na minha memória só ficou disso tudo a lembrança dos movimentos.
ELE Me apoderar do seu corpo, dos buracos dos seus cheiros
cada zona do seu corpo que eu golpeava
sabia a cor de cada um dos hematomas
antes tinha algum sentido, diziam que eu não conseguiria te tirar nenhum nome nunca...
agora não te entendo você pode gritar meu nome para todos e outra vez prefere calar e não falar
confessa filha da puta grita quem sou eu quem fui grita o que aconteceu entre nós não me negue mais.
Porque eu existi. Eu fui.
Por quê? Por quê? Por que não diz o meu nome?
ELA Não direi o seu nome. Você preferiria que eu te denunciasse, que contasse tudo
Sei que assim você se sentiria melhor orgulhoso de que todos soubessem que me bateu.
Você quer ser herói como todos os demais orgulhosos outra vez do que fizeram
orgulhosos de andar soltos desafiando e ameaçando sempre... outra vez heróis...
você é muito deturpado eu não vou dizer nome você vai seguir esperando sempre...
será esse seu pequeno tormento te conheço bem
é a única maneira de estar prisioneiro não vou falar
não te conheço você é irreconhecível mais um de todos eles
você quer ser herói e se sente herói e se sente anônimo...
Vou ficar em Silêncio. Meu Silêncio é sua prisão. Meu Silêncio são os gritos em sua cabeça ali ninguém vai poder te soltar
você sabe que não
prisioneiro dos gritos prisioneiro dos pânicos
talvez algum dia quem sabe ou talvez nunca
porque agora o tempo é meu.
Não vou falar,
Não vou te fazer herói nunca
você vai continuar esperando fechado no meu Silêncio.
Não vou dizer o seu nome...

. o que eu visualizo com este epílogo (e por isso o nome dado é cenografia do acontecimento) é uma virada do espetáculo (e da personagem femina) onde ELA chama a atenção d'ELE para o fato de eles fazerem parte de um todo muito maior. para o fato, duro como pedra, de que a história deles é só mais uma, para o fato de que ele é tão anônimo quanto herói e que tudo isso pode não significar nada num dado momento. ela destrói o cara nesta hora. ela se destrói por fim, porque ele é a sua única segurança. é apenas ele que vela pelo corpo morto dela. mas é preciso. em NÂO DOIS, os dois terminam partidos. algo como uma lógica de simetria perfeita. onde cada um tem de volta aquilo que propaga. bizarro. acho isso muito difícil de avaliar, de compreender, de aceitar...
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# 23

20 de novembro de 2009 - Sala 404 (UNIRIO) -18h/23h
dan marins, diogo liberano e natássia vello.

. trabalhamos um pouco do 3º e do 4º movimento. a idéia era identificar quebras possíveis no texto e dar uma assimilada no que acontece realmente nos dois movimentos e, por consequência, no epílogo;
 
. fiz um jogo que irritou bastante os atores. pedi que ficassem frente a frente e que dessem o texto. a cada piscada de olhos que o outro (que estava em silêncio) desse, o que estivesse falando deveria propor uma quebra imediata em seu texto. qualquer quebra era permitida (poderíamos usar pausas, mudanças de ritmo, andamento, altura, grave, agudo, qualquer coisa, intenção, entonação...);

. evidentemente que esse jogo é quase impraticável, mas rendeu pelo menos uma ligeira consciência sobre a importância de quebra. não consigo marcar o texto, fazer uma partitura vocal. prefiro estimular o entendimento dos atores e deixar que a cada apresentação e/ou ensaio eles façam suas propostas. está aí algo que devo amadurecer;

. fizemos duas passadas da peça toda (sem o epílogo). a primeira deu 30 minutos e a segunda (com o epílogo sendo lido), tivemos um tempo de 32 minutos.
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# 22

18 de novembro de 2009 - Sala 504 (UNIRIO) -10h/14h
dan marins, diogo liberano e natássia vello.

. finalmente começamos o trabalho do movimento mais difícil na minha opinião, o segundo, intitulado MEMÓRIA;

. na noite anterior, saí do ensaio e fui jantar sozinho num bar aqui perto de casa e enquanto esperava a refeição (e durante o jantar) fiz algo que nunca costumo fazer, mas que foi extremamente útil neste altura do jogo. abri meu caderno com o texto em mãos e entendi uma possível marcação/jogo para o segundo movimento. fui pegando fala por fala e buscando estímulos mais concretos para os atores. estímulos que trouxessem a eles alguma verdade já vivida, alguma experiência já trocada. uma forma de ser mais psicológico e menos formal (algo que está tornando o processo bem complicado e interessante, ao mesmo tempo);

. neste movimento, acredito eu, na fala d'ELE intitulada O MONÓLOGO DO PAI (que é quando ele conta novamente para ELA sobre um caso traumático da infância d'ELE), ELA consegue sair da estrutura (que o Dan resolveu chamar de ESTORTURA) e se reconhece morta. ou seja, o segundo movimento é aquele na qual ELA se desprende de seu corpo para ver que o mesmo morreu;

. ao chegar na sala de ensaio, propûs ao dan o trabalho com posições físicas, um trabalho com "estátuas", ou seja, ele assumiria composições do corpo variadas e depois, eu organizaria estas e teríamos um desenho corporal para o segundo movimento. a maioria das posições afetou gravemente a voz dele, fazendo com que o tom da cena mudasse drasticamente, substituindo uma possível gritaria por uma fala mais contida, mais interiorizada;

. ao término do ensaio, conseguimos levantar o segundo movimento. ainda pensando em revelação, no MONÓLOGO DO PAI (que eu descobri se tratar de um caso da vida do dramaturgo Eduardo Pavlovsky, em seu livro, A MULTIPLICAÇÃO DRAMÁTICA), eu acredito que a personagem feminina encontra espaço para a sua saída do corpo, é quando a sua morte se concretiza. daí, me surgiu a idéia de selecionar algumas frases e pedir à natássia que as roubasse do dan. a cada frase roubada, um braço da estrutura seria aberto;

. é complicado explicar tudo aqui. depois quero acrescentar fotos. segue o trecho do texto que chamamos de MONÓLOGO DO PAI (e que é incrível). na fala anterior a esta, ELA pergunta o que poderia ter criado nela esta estranha capacidade de sentir pena dele, é quando ELE a lembra de um acontecimento entre os dois, no passado:
ELE Um domingo de tarde eu tinha ido te visitar você perguntou quem era meu pai
Meu pai?, disse eu, me ouviu bem, me disse
curioso, do meu pai eu só tenho lembrança, uma lembrança que sempre me volta...
eu tinha perto de nove ou dez anos
tinha chegado em casa chorando, porque uns meninos tinham me batido na rua
meu pai me disse que queria vê-los, prometeu que não ia se meter que só queria vê-los
fomos juntos caminhando até a praça. Estavam lá. Não nos viram. Papai perguntou qual tinha sido o que tinha me batido.
Mostrei um deles o maior deles para mim, que tinha bigodes
meu pai me disse e esse idiota te bateu?
Vai lá e bate nele agora mesmo
anda e fala para ele que você veio bater nele sozinho
eu olhei o menino de bigodes, me pareceu maior que nunca tive uma sensação física de debilidade enorme, sentia que ia desmaiar, tremia de medo...
Você tem que brigar com ele, anda não seja cagão, anda vai e bate nele
e quanto mais papai insistia mais eu me aterrorizava.
Agora é o momento, anda e diz que quer brigar com ele sozinho, sem os amigos, que você quer bater nele sozinho você vai ver como se encolhe, certeza que vai se encolher.
Eu não saía do terror, para mim essa cena não acabava mais, foi eterna
é provável que tenha durado apenas um ou dois minutos
só sei que num momento disse pro meu pai
quero ir embora pra casa, não tenho coragem
Certeza que não tem? Me lembro de seus olhos. Sua expressão desembaraçada, sua frustração infinita. Seu filho era um covarde.
Não tenho coragem é maior do que eu lhe disse...
não, não é maior, se você não tem coragem não se engane a você mesmo e vamos para casa... e voltamos caminhando em Silêncio junto.
Esse dia permaneceu oculto entre nós
vergonhosamente silenciado e cúmplice.
Foi a marca por onde transitou nossa história.
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# 21

17 de novembro de 2009 - Sala 111 (ECO/UFRJ) - 20h/22h
dan marins, diogo liberano, jéssica baasch, marcellus ferreira e natássia vello.

. apresentamos um passadão (sem epílogo e sem segundo movimento) para um dos professores orientadores, o Marcellus Ferreira. segue apenas um comentário que foi muito válido para mim:
. trouxe a questão da forma narrada e não dialógica que o texto propõe. sugeriu que trouxessemos uma maior sutileza para lidar com o texto em alguns momentos. sinalizou que falta sensorialidade para os atores, visto que seu modo de falar (em trechos específicos) não alcançam aquilo que está sendo dito;
. a partir desse comentário, começei a repensar o trabalho com os atores e começei a propor algumas possibilidades outras para estimular a construção e apropriação das cenas.
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# 20

15 de novembro de 2009 - Casa do Dan - 13h/17h
dan marins, diogo liberano e natássia vello.
 
. pensando muito em revelação (o que eu posso atualizar para o espectador. quais puxadas de tapete. como inaugurar novas composições. como segurá-lo na cadeira e não deixá-lo sair dali. muitas perguntas);

. trabalho de simultaneidade do primeiro movimento. é alguma revelação isso. instaura a participação d'ELA no jogo de repetição das partituras. é estranho. é estranho sim, eu acredito;

. louco porque experimentei propor ao dan uma "marca" que de imediato não significava nada muito claro (uma andada circular ao redor da natássia, porém, andada esta feita para trás, ele andando ao redor d'ELA, só que de costas). isso causou um incômodo de primeira, até mesmo eu duvidava. aos poucos, porém, a coisa foi sendo apropriada e se converteu em entendimento para o ator (eu diria hoje, dias depois deste ensaio que descrevo agora, que a marca se converteu em necessidade);
 
. organizamos a semana seguinte de ensaio e fechamos o nome do espetáculo em NÃO DOIS.
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# 19

13 de novembro de 2009 - Sala 407 (UNIRIO) - 18h/23h
dan marins, diogo liberano e natássia vello.

. trabalhamos o prólogo na primeira parte do ensaio. encontramos o jogo da respiração, que abre a peça. aliás, cada vez mais o apelo físico está ganhando o espetáculo. a fisicalidade, exposta, desenhada, é muito estética, é muito mais corpo, enfim...

. sugeri à natássia que usasse o longo tempo do prólogo falado pelo dan (cerca de 3 minutos) para concretizar apenas um movimento (o de ir recolhendo o corpo que começa jogado para trás);

. no caderno do espetáculo encontrei isso escrito "how dificult it is"...;

. depois ficamos por conta do primeiro movimento, sempre retornando o prólogo para entender em que lugar o primeiro movimento estaria. surgiram coisas boas por aprte dos atores, lógicas de movimentos;

. fizemos uma passada pulando o que faltava ser levantado. o terceiro movimento me sugeriu muito claramente a necessidade de se pensar a sonoridade do espetáculo. e ainda me disse (o terceiro movimento) de que os sons saem dos corpos em choque (!).
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domingo, 29 de novembro de 2009

Não Dois...

Está chegando a hora. O blog está super desatualizado. Mas estamos ensaiando todos os dias. Muito o que conquistar. O trabalho está mais difícil, no entanto, também mais prazeroso.




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segunda-feira, 23 de novembro de 2009

12 de agosto de 2009.


Rio, 12 de agosto de 2009.

Cheguei a pouco do primeiro ensaio de PDD. Ontem criei um blog, intitulado Processo de Pas-de-Deux, cujo endereço é pdpdd.blogspot.com. A idéia é lançar lá no blog todos os movimentos feitos em sala de ensaio, como se fosse um arquivo (ainda privado) de todo o trabalho com os atores. Acho que lá na frente pode ser legal ter isso exposto, ter isso como material nosso, enfim, não preciso justificar todos os atos. Fiz, estou atualizando, ao término de cada ensaio. Depois vejo mais...

Outra coisa que me veio hoje é sobre o nome da peça. Estou muito tentado a desenvolver alguma coisa nova nesse sentido. Não sei se PDD serve. A noção de negação do dois é muito interessante. Algo como “não dois” me parece bastante sugestivo. É realmente um lugar de combate ao que é dicotômico, à própria noção de dualidade, algo que eventualmente (para não dizer, recorrentemente) já se tornou cansativo. Pensar nisso.

não dois

Eu gosto muito. Na verdade, gosto muitíssimo. Dá uma idéia ruidosa de duplo. Sei lá, me parece muito bom muito prenhe de conflitos. Nesse sentido, a presença de um terceiro corpo em cena é muito interessante, muito. Ele quebra a harmonia aparente do ser dupla. Assim como sobrevida quebra a harmonia aparente de vida e morte. Estamos transitando por lugares outros. Estamos emergindo outras possibilidades. Descobrindo algo entre ou além do oito e do oitenta.
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domingo, 22 de novembro de 2009

novembro - última semana obsessiva de ensaios

terça . 24/11
UNIRIO de 20h às 23h
epílogo.

quarta . 25/11
UNIRIO de 10h às 14h
epílogo.
 
quinta . 26/11
UNIRIO de 19h30 às 23h
passadão.
 
sexta . 27/11
UNIRIO de 17h às 21h
UFRJ de 21h às 22h
passadão.
 
sábado . 28/11
UNIRIO de 10h às 16h
passadão.
 
domingo . 29/11
UNIRIO de 10h a...
passadão.
 

10 de agosto de 2009.

Rio, 10 de agosto de 2009.

Eu nem sei se escrevi aqui, mas fiz na semana passada (mais precisamente, na quinta-feira dia 06 de agosto) a primeira leitura com o elenco de PDD. Na verdade, a idéia era fazer uma leitura com o Dan Marins e a Nat. Ele achou que era um teste e ficou ligeiramente surpreso ao saber que não, que ele ia mesmo fazer PDD. Mostrou-se interessado. A leitura foi ótima. Ele fala bem o texto, acho que teremos um processo bom pela frente.

Já marquei dois ensaios nesta semana. Eles vão acontecer na quarta e na quinta, dias 12 e 13 de agosto. De 15h às 18h. Para começar, dois ensaios curtos. Mas acho que este tempo de 3h por ensaio está de bom tamanho. Como estou começando antes, evito me atrapalhar com cronograma. Quero experimentar bastante antes de começar a fechar coisas.

Confesso, ainda não consegui sentar para estudar nada. Mas não há desespero. É mesmo aquilo que tinha entendido em algum momento deste ano. O estudo é o próprio processo, portanto, vamos fazendo. Quero estudar um pouco amanhã (terça) e na quarta pela manhã. Vou seguir a metodologia arranjada, desenhada meses atrás. Explorar os campos de texto, composição, improvisação e relação. A Jéssica já vai estar presente na quarta-feira. As aulas na faculdade nem começaram (gripe suína), mas já vou ensaiar.


Encontrei-me com a Jéssica recentemente. Convidei-a para assistir Cachorro! Ela adorou demais o espetáculo. Aproveitei e conversei com ela sobre o início dos ensaios. A imagem acima foi ela quem fez, numa colagem de referências para PDD. Achei bastante interessante. Bastante. Vamos seguindo.

sábado, 21 de novembro de 2009

03 de agosto de 2009.

Campinas, 03 de agosto de 2009.
Rodoviária

Já é hora de começar. Pensar em rotina, mesmo que não seja isto propriamente. Pensar em repetição. Persistência (nas poças da incompreensão – persistência nas poças do que não é sublime e nisso, perceberemos a nossa real vocação).

Acho que o elenco está completo. O Dan me veio por indicação da Natássia. Ainda não sei quem ele é – ainda não. Bom motivo para se gastar – o primeiro mês de ensaio ainda é horizontal, dele tudo sairá, portanto nele acreditar. Ir juntando tentativas, menos acertos e mais erros – e criar um corpo que seja nosso por inteiro, mas ainda assim, meio nosso meio do mundo. Aquilo sobre o qual estamos falando pertence ao mundo, a princípio.

FAZER ao invés de FALAR. Estimular deixar neles crescer, isso que em mim sozinho pode vir a morrer.
A música nos ensaios, as diferentes atmosferas, saber propor também o silêncio.
Os figurinos. São apenas roupas de ensaio ou poderemos experimentar outros sentidos?
Sim. Horizontal.

>>> Acreditar nas imagens como guias, como a única explicação disponível. Voltar à metodologia dos ensaios e estudar com afinco as etapas:

Relacional (quais objetivos)
Improvisacional, composicional
Textual
Cada qual pode ter seu(s) objetivo(s)
Saber qual são e agir na sua
Conquista.
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sexta-feira, 20 de novembro de 2009

25 de julho de 2009.

Rio, 25 de julho de 2009.

Gente, que correria. Deus é mais! Enfim, terminei somente hoje o projeto (que deve ser entregue ao professor José Henrique na disciplina de Direção V). Estou desde segunda escrevendo e reescrevendo e fechando coisas que estavam soltas, mas que quando colocadas no projeto parecem te exigir forma. Enfim, mais uma etapa que se encerra. Para se abrir, novamente, mais adiante.


Enfim, gosto como ponto de partida. É muita coisa para dizer em apenas duas folhas permitidas de projeto.

O que eu acho que ainda precisa ser feito agora em julho é:
- fechar rapidamente a noção de “inconsciente coletivo” em PDD;
- começar os estudos de Anne Bogart e Viola Spolin;
- fechar o elenco;
- e reestruturar um cronograma de ensaios.

Sobre o elenco, a Natássia trouxe uma possibilidade. Um ator com o qual ela está ensaiando o espetáculo novo da Cia. dela. O bom disso é que além de ser um ótimo ator, os horários dele batem com os da Natássia. E a partir de outubro, os dois estarão livres para PDD.

A Jéssica deu uma parada em nossos encontros. Não ela, mas não pudemos nos encontrar nas últimas semanas, então, eu achei melhor também não ficar insistindo. É legal ter uma ou duas semanas de descanso. Depois, este será impossível. Ou não.
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quinta-feira, 19 de novembro de 2009

02 de julho de 2009.

Rio, 02 de julho.

Gente, foi mesmo um lapso no tempo. Estou para estrear a peça Amores Risíveis, sob direção da amiga Natássia Vello. Então, tudo está correndo e nessas últimas duas semanas não tive tempo de me encontrar com a Jéssica, quiçá de estudar mais sobre o espetáculo.

Bom, tenho pensado no elenco e deixado a Jéssica mais sozinha, para que ela possa agilizar seu lado. Sobre elenco, vi antes de ontem a peça Novas diretrizes para tempos de paz, dirigida por um aluno da UFRJ, Thiago Paciência. Um dos atores me interessou bastante. Não sei o nome, nem sei por que não o convidei desde já para fazer uma leitura.

Enfim, preciso encarar essa questão logo.

A partir do dia 15 de julho, começarei a estudar bastante. E confesso hoje me veio que o estudo é o próprio processo. Ele será feito no decorrer e não tem que acabar antes do início dos ensaios. Vai se aprendendo, vai se aprimorando.
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quarta-feira, 18 de novembro de 2009

13 de junho de 2009.

Ipiabas, 13 de junho de 2009.

Fiz uma viagem do Rio para Ipiabas nesta última quinta, à noite. Logo no início da viagem, ao som de Caetano Veloso e seus álbuns mais antigos, fiz uma leitura inteira de PDD. Buscava, sobretudo, ler a peça por completo, sem pensar em muitos focos específicos que pudessem me desvirtuar de uma simples leitura. E eis que lendo encontro a força dramática do texto.

Sem dúvida é o achado. Pensar o que toca o personagem ELE e o que toca ELA. No sentido de estarem revivendo tudo. Por que revivem, onde esse resgate da experiência vivida – e compartilhada – toca cada um?

ELE

Acredito que ele quer reviver tudo isso posto tenha sido nestes momentos de vivência compartilhada que ele tenha conseguido viver intensidades, calores, experiências, sentidos e afetos. Sem isso ele resta no vazio. E o vazio o aflige da mesma forma que o silencia dela, noutro momento, o tornava irascível. Acho que ele quer reviver tudo isso para disfarçar o peso cruel no qual a realidade se transformou. Ele quer reviver para esquecer, distrair, o momento presente, o vazio do presente. É preciso reviver para conseguir viver. Sem isso, é melhor estar morto. Tem uma questão ambígua, porque ao mesmo tempo em que ele quer viver de volta, por conta das experiências, das intensidades trocadas, ele quer reviver pois isto anula de imediato a constatação mais dolorosa e perversa: a de que ele a matou. Reviver o passado é tampar o espaço do presente com algo melhor do que o agora. É uma maneira de escapar. De tentar sair, pelo menos, menos ferido. Com alguma vida, que seja, possível.

ELA

Sem dúvida sempre foi mais difícil encontrar as motivações d’Ela. No entanto, assimilando a sua morte, ou seja, aceitando que ela foi morta por ele e que a peça se inicia no instante imediatamente posterior a sua morte, tudo se torna mais prenhe de conflitos e objetivos. Ou seja, temos espaço para que a sua morte seja descoberta, tanto por ela quanto por ele. Após a descoberta, teria o se reconhecer morta, num estado que denomino aqui de SOBREVIDA. E depois disso, toda a sua insistência para que exista um reviver de tudo passado, transita num espaço ambíguo marcado por duas motivações: 1ª) querer que ele reviva tudo com intuito principal de vingança, ou seja, ela o faz reviver tudo chamando atenção para o horror causado por ele; 2ª) ela querer reviver tudo justamente porque revivendo ela se torna existente, ela ainda se mantém presente, não é esquecida por completo. Acho que essa dupla, esse par de possibilidades, é incrível e dá conta da personagem, da sua complexidade. Existe constantemente a descoberta do horror e da necessidade de afeto nos dois casos, por isso são misturados. Adoro!

...

Na quarta, dia 10, eu tive um encontro com a amiga Brunella Provvidente, no qual conversamos sobre vida e trabalho. Quando tocamos no assunto PDD, ela adorou a idéia do cenário que não é tocado, quase sagrado, cenário diante do qual os atores buscam não encostar. Sugeriu alguma mobilidade possível e exclusiva ao cenário, como se uma cadeira, por exemplo, estivesse presa a apenas 10 centímetros do chão, movendo toda vez que algo passe por ela, ventando seu respirar. Ela me fez pensar nesse cenário que respira. A cena acontecendo e o cenário, sozinho, respirando, se movendo, como se alguma máquina dentro escondida pudesse sugerir um corpo vivo. Tem algo a ver com Kantor.

Surgiu também um primeiro espaço mais detalhado. Que poderia ser o espaço do corredor. Como se o trecho do quarto que interessa estivesse num meio, perdido entre os olhares, vazado, extravasado.

...

Do trabalho com os atores

É sempre o que me dá mais medo, confesso. Sinto-me, às vezes, sem força para lidar com isso. Mas é o meu trabalho, portanto, acabo sendo impelido a estudar, a rever meus medos e a gerar e gerir suas curas.

Eu funciono com metodologias. Eu preciso estipular um caminho prévio, justamente para saber lidar com as rupturas do mesmo. Mas eu preciso ter um fio a seguir. E é o que estipulei na noite deste dia 11 de junho.

- estímulo à criação dos atores;
- acúmulo de vivências/criações;
- direcionamento de materiais gerados e levantamento de cenas.

A estrutura anterior segue uma ordem cronológica óbvia, mas necessária. Meu primeiro verbo é estimular. Dar materiais que catalisem a imaginação dos atores e espaço que receba essa produção. Depois, tendo acumulado todas as possibilidades geradas, eu começo a direcionar movimentos feitos, lógicas descobertas, tempos e intenções e estimulo, por último, a chegada na cena.

Eu preciso acreditar neste território. Ele desvincula da figura do diretor a necessidade de fornecer respostas. Ele situa o ator num espaço de criação em que ele assina pelo espetáculo. Em que o seu empenho determinará a fundação e a construção que será erguida.

Por isso, estipulei um prazo de um mês para a investigação “horizontal” da peça, ou seja, para aquela pesquisa que não visa resultados, mas antes disso, que busca relações, vivências, lógicas variadas... Neste tempo inicial (que seria o mês de agosto), a idéia é segurar as definições já feitas, as decisões já tomadas. Com as experimentações, acumula-se um saber de vivências que determinará de maneira decisiva as certezas já tomadas. Estas, a partir dessa pesquisa de um mês, poderão ser modificadas. A idéia é que neste mês acumule-se material suficiente para nos certificar as nossas escolhas. São escolhas, nada aleatório.

Das certezas do projeto inicial

O próprio trabalho de desenvolver um projeto pressupõe algumas colocações que devem, pelo menos, soarem mais acertadas e não tanto soltas. Assim, alguns pontos específicos da encenação já terão sido “fechados” antes do início dos ensaios. Pontos como, por exemplo, a leitura do texto, o que se quer dizer, as intenções das falas, espaço, esboços da direção de arte, etc.

Neste mês de agosto, todos esses pontos, essas certezas já definidas, entrarão num estado de SUSPENSÃO, justamente para que após a pesquisa do mês, as certezas tenham condição de se firmarem mais plenas, sem a sombra de muitas dúvidas. Esclarecido.

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Campos de pesquisa com os atores

1º RELACIONAL. Diz respeito ao trabalho corporal, à fisicalidade dos atores. Explorar a relação que pode haver entre os dois, a partir de estímulos ligados ao movimento (aproximações, afastamentos, vazio, preenchimento, intensidades...). Construção de partituras. O texto é de onde partem as relações mais preciosas. ESPAÇO DETERMINANTE PARA ESTIMULAR A IMERSÃO EM ATMOSFERAS QUE O TEXTO CARECE PARA GERMINAR.

2º IMPROVISACIONAL. Exposição livre da compreensão individual, em cruzamento com o outro. Propor situações claras e objetivas. Sugere administração de tempo, de sua progressão. Maneiras variadas de se lidar com um tema. MOMENTO PROPÍCIO PARA GERAR E CATALOGAR movimentos, lógicas, espaços, intenções, ações – tudo isso sugerido pelos atores.

3º TEXTUAL. Estudo poético-estrutural do texto, diferentes dinâmicas de intenção. Processo de digestão do texto, as palavras digeridas, os sentidos especulados, o íntimo do texto devastado e preservado. APROPRIAÇÃO. Poesia (metonímias, metáforas, hipérboles, rimas, repetições, zeugmas...). Estrutura (verbos transitivos e intransitivos, maiúsculas, minúsculas, pontuação, adjetivos, substantivos, sujeitos, tempos verbais...).

4º COMPOSICIONAL. Exposição guiada por estímulos precisos. Espaço de ação do acaso, ao sugerir o encontro de partes que não naturalmente se encontrariam. Espaço de digestão de materiais distintos lançados numa mesma panela e obrigados a coexistirem. Estimular a projeção de imagens, o aparecimento de novas lógicas relacionais. ESTIMULAR A GÊNESE DO CONTRADITÓRIO. Humanizar, tornar estético. VISLUMBRES DA ENCENAÇÃO.
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terça-feira, 17 de novembro de 2009

09 de junho de 2009.


Rio, 09 de junho de 2009.

Acabei de chegar do terceiro encontro com a Jéssica. Estou sem telefone e sem internet. Um dado que muda tudo, porque me faz concentrar num trabalho específico. Coisa que pareço incapaz de apreender ou pelo menos, um sofredor legítimo na tentativa de ser essa pessoa mais estudiosa e organizada.

Enfim, ao mesmo tempo, a cabeça transbordando de novas e boas e más e difíceis conclusões sobre PDD. Vamos por partes.

Não sei se já escrevi aqui, mas o amigo Andrêas Gatto não está mais no projeto. Por questões várias ele teve que nos deixar, mesmo restando o interesse mútuo desse encontro. Que terá seu tempo no seu devido espaço... Precisamos seguir. A saída dele, ao menos, me alertou para que homem é esse que preciso encontrar. E mais, que mulher é essa – Natássia Vello – que tenho.

A presença jovem da Natássia me desloca imediatamente de uma história que se dê plena no campo da relação torturador e torturada. Abre espaço de verossimilhança, mais para o campo dos amantes (homem e mulher) do que para a relação (quase envelhecida) que possa existir entre um torturador e uma vítima sua. Até porque, convenhamos, a noção de tortura em nosso país é datada, remete quase sempre – ou pelo menos majoritariamente – à ditadura (1964-1985).

Acho que vou escrever muito nesta noite. Pelo menos é o que sinto ser necessário, pensando a escrita como diálogo que eu mesmo faço comigo mesmo, na tentativa de evoluir e não colapsar desde já.

Vinho, alguma comida, algum som perdido pela casa e a coluna diante deste teclado imundo. Preciso de algo mais?

...

Algumas conclusões (são sempre precipitadas).

- A peça se inicia num momento que é posterior a tudo o que está sendo lembrando e revivido pelos corpos ali presentes. É presente, a fala é naquele instante, mas é posterior, obviamente, a tudo o que está sendo lembrado, a tudo o que naquele agora é passado;

- O momento da encenação diz respeito à percepção dele de que ela está morta. E para ela, diz respeito ao seu ser em sobrevida, ou seja, diz respeito à sua vida posterior a morte dela mesma;

- O esforço dele em lembrar e recordar de momentos e de vivências é justificado pela necessidade de combater o vazio que a morte dela fez emergir; ao passo que o esforço dela em relembrar tudo isso é tentar trazer de novo a sua existência, naquele agora inexistente, tornada espectral, fantasmagórica. Ele sente horror dela. Ela o assusta. Ela está morta;

- O que estamos agindo ali é uma relação. Que é póstuma, pois morreu, mas que era em sua totalidade o que pode ser uma relação qualquer entre duas pessoas. Há a parcela desejo, há a parcela respeito. Há afetos distintos horrores possíveis. Sinalizo, como encenador, o tênue limite entre a capacidade de gerir e gerar horrores e afetos num mesmo gesto. Sobre como somos capazes de amar e matar, num mesmo beijo, num mesmo tiro, num mesmo entre que possa haver entre esses extremos que já não se mostram mais precisos. Não se mostram mais precisos porque eu pergunto: como eu posso negar a possibilidade de amor entre um torturador e seu torturado? Como eu posso negar a possibilidade de ódio entre um homem e uma mulher? Não posso negar. As coisas podem ser, boas ou más, ou pior, classificarem-se num infinito entre-lugar. É que no caso de PDD, os amantes e os torturantes coexistem num mesmo corpo, num passo de dois.

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Algumas metodologias.
- Levantar matrizes para estimular composições e improvisações com os atores. Exemplos de matrizes já separadas: trechos do manual de interrogatório; trechos do livro diário do farol, de João Ubaldo Ribeiro...

...

Vindo no ônibus, surgiram-me muitas idéias. Seguem-nas:

...

Tudo isso para dizer que eu preciso estabelecer um link de simpatia inicial com o espectador. Para depois, no decorrer da encenação, poder lançá-lo para onde eu quiser, sem pedir a sua encenação. Primeiro eu seduzo, depois dou o bote. Eu te induzo a acreditar – pela luz, pelo cheiro, pelo ar – que caminhar por essa esquina a essa hora seja tranqüilo – e lá no fim do seu percurso eu te absurdo, e te estupro em posições inapreensíveis. Diria eu: metafísicas. Arte como estupro. Eu gosto disso.

Gente, estou demorando a deixar aqui registrado que esse encontro, lá no início, se dê – talvez – primeiro pela cenografia e pelo espaço. Como se entrando na sala de espetáculo, o espectador visse um quarto – que possa ser o da tortura, que possa ser o do casal. Mas usar o cenário pela negação, ou seja, não utilizá-lo. O que aconteceu ali naquele cenário, através daqueles objetos e móveis, já aconteceu. O que se inaugura com a peça é o posterior a isso. É na cabeça dele. Ele sequer quer olhar de novo, sequer ele quer tocar naquilo, isso seria profanar a morte dela. Seria brincar infantilmente com uma dor que ainda o conserva. Com uma perda que ainda lhe faz ser.

Caralho!
Parece tão óbvio, mas olhei na minha parede agora e transcrevo a seguir o que li:

O pássaro é livre
na prisão do ar.
O espírito é livre
na prisão do corpo.
Mas livre, bem livre,
é mesmo estar morto.
Carlos Drummond de Andrade. Liberdade.

Acho que isso diz tudo. Seria quase uma apologia à morte. Ou mais, apologia à liberdade. Incondicional. É o tipo de coisa que eu escreveria que eu a faria escrever com o próprio sangue, na parede da encenação.

Essa imagem é foda. É só porque tenho pensado nisso das marionetes, dos bonecos. A Jéssica está estudando o Manifesto do Teatro da Morte (1975) de Tadeusz Kantor. Vamos selecionar alguns pontos que estimulem a nossa pesquisa e construção estética.

Interesso-me, sobretudo, por um outro corpo. É como se houvesse um corpo dela, parado, morto. E outro, vivo, pulsante, movente. (Seu espírito, o corpo da atriz). Gosto disso... Seguir...
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segunda-feira, 16 de novembro de 2009

04 de junho de 2009.

Rio, 04 de junho de 2009.

Segue troca de e-mails com Jéssica:

>>>

dear,
estou com uma insônia horrorosa. acho que estou tomando mto café. enfim, estou pesquisando algumas referências e te envio algumas coisas.

bizarro o poder do insconsciente (indifere o nome). eu te falei de "a morte e a donzela". nem sabia ao certo porque. fui pesquisar e vi que se trata de um filme do roman polansky (um maravilhoso diretor, que fez coisas lindas como "o pianista", "chinatown", "o bebê de rosemary"...) >>> http://www.imdb.com/title/tt0109579/

enfim. se trata - o filme - da versão cinematográfica de uma PEÇA ARGENTINA de um dramaturgo chamado Ariel Dorfman
e que também roteirizou o filme. conta a história de uma mulher que um dia descobre que seu vizinho é, na verdade, um homem que a torturou no passado durante um governo fascista. ela fica no dilema entre se vingar ou não, ...

enfim. já fiz o download do filme. tenho que comprar um DVD virgem para gravar todas essas coisas para você. ou podemos combinar de assistirmos juntos.

>>> referências estéticas

em 2007, veio para o riocenacontemporanea, um espetáculo de uma companhia italiana

chamada Socìetas Raffaello Sanzio. o espetáculo se chama HEY GIRL!. eu participei como figurante (eram 40 homens que espancavam uma menina com travesseiros). coloquei o link aí embaixo de um trailer da peça.

o que quero dizer, enfim, (depois te levo um livro com fotos da peça), é que havia uma imagem de metamorfose, que era a atriz principal, acordando sobre uma mesa e tendo uma pele se desprendendo. são imagens, conforme conversamos. mas é louco. observe o tamanho da cabeça dela. observe a luz das fotos. isso é um lugar interessante esteticamente.


as fotos estão em anexo.

>>> outra referência, é o trabalho do encenador TADEUSZ KANTOR. este site reúne algum material sobre ele. talvez seja o mais completo. http://www.cricoteka.com.pl/en/index.php está em inglês, mas vc pode ir buscando e clicar em FINE ARTS, e depois em OBJECTS e dar uma olhada nas concepções de objetos cênicos.

- temos o manifesto do teatro da morte, que eu levo xerocado para vc, numa tradução excelente que foi publicada no folhetim.

O nosso segundo encontro foi também muito revelador. Estamos entrando na questão do horror e do afeto. Na introdução do livro com peças de Pavlovsky que foi publicado aqui no Brasil no ano passado, Betch Cleinman fala que para entrar no universo do torturador, é preciso superar o horror e penetrar na sua lógica dos afetos. Ou seja, não cabe aqui maniqueísmos. A construção do personagem deve partir da contradição. Talvez esteja escrevendo neste momento uma excelente constatação que me dê chão para começar a pensar nisso – já é hora.

Como construir esses personagens?

Pela contradição. Pelo ser violentado e violentar o outro como resposta, como tentativa de resolução de si mesmo. Evoluir...

Noite.
Respostas aos e-mails:

Lá vai o manual.

Ele obviamente não fala de tortura, porque é um documento oficial e esse tipo de documento não pode dar carta branca pra bater e espancar a todos, mas todos sabemos que a realidade da ditadura não foi assim - eu que o diga, meu avô foi um dos presos e mortos por ela.

Mas o manual tem uns tópicos maravilhosos sobre como deve ser o comportamento do interrogador em relação ao interrogado.

O começo do texto parece que nada se aproveita, mas algumas páginas depois que se torna interessante.

Eu já grifei várias coisas.

Na página 11, na parte de "Tratamento de Prisioneiros" - vale a pena todos os tópicos.

Depois, na página 15, os "Métodos de Interrogatório". As abordagens de aproximação são ótimas.
"O interrogatório é um confronte de personalidades" - Página 16 (achei essa frase tudo).

Por fim, o tópico "Qualidades de um Interrogador", página 17, vale a pena tudo que está descrito ali.

Depois dessas preliminares, aí começa a descrição do método de interrogação. Maravilhoso, nem vale colocar páginas aqui. Acho ótimo como eles sempre repetem como o interrogador deve sempre ser insistente e persistente (= obsessão?) e também como reafirmam que o interrogado deve estar sempre numa posição inferior ao interrogador.

E amei a definição do sobreviver - nunca tinha ouvido falar da primeira. Faz todo o sentido. E essa viagem do Intransitivo com não necessitar de um complemento, vide um outrem, faz mais sentido ainda.

Pra apimentar:

1. Sobrevida
Vida após um determinado limite
s.f. Estado daquele que sobrevive a outro. / Vida futura, prolongamento da existência além da morte. / Sobrevivência.

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Os termos sobrevida e sobrevivência realmente não significam a mesma coisa em linguagem médica. Mas Manuel Freitas e Costa, Dicionário de Termos Médicos (Porto, Porto Editora, 2005), define-os assim:

sobrevida: «acto de sobreviver»

sobrevivência: «viver para além do esperado» Pude, no entanto, saber que em português europeu, na área da oncologia, o uso de sobrevida corresponde a «vida com continuação da doença», enquanto sobrevivência significa a «situação de sobreviver livre de doença».

Beijos!

2009/6/4 Diogo Liberano diogoliberano@yahoo.com.br
you are amazing.
quantas coisas boas, vamos por parte:

pois é, eu e rick fizemos a tal figuração. levo o livro com mais fotos na terça.
eu levo o manifesto para você, não se preocupe.
beleza então. também vou assistir ao filme e a gente conversa sobre.
os objetos do kantor são bárbaros, a gente conversa mais sobre eles ao vivo.
conversaremos sobre as suas fotos!
eu adorei essa do livro do João Ubaldo. é mais fácil comprar ou xerocar? se puder, traga. pode ser interessante a gente investir nessa humanização do personagem masculino. algo que é bem difícil de se captar em PDD.

pasmei,
eu quero esse manual agora. pode mandar que eu imprimo e levo na terça, daí a gente xeroca.
é, tô tomando (café) com cuidado.

e agora, só adiantando:
fiz uma pesquisa agora mesmo sobre SOBREVIVER.
SOBREVIVER
so.bre.vi.ver

1. (intransitivo)
- viver depois da morte de outrem
- escapar
- durar
- continuar a ocorrer
Desenvolvendo as primeiras idéias que me ocorreram: essa questão do sobreviver, a partir do conceito acima, traz a sobrevivência não somente para ela, mas para ele também, afinal ele está tentando sobreviver após a morte dela e ela tentando durar após ter sido morta. Daí, o que mais me marcou foi o fato de 1) ser VERBO e 2) ser um VERBO INTRANSITIVO.

Seguindo: verbo pressupõe AÇÃO, ou seja, teatro!

e ser intransitivo (quer dizer que é um verbo que exprime estado, qualidade ou ação que não passa do sujeito, portanto, não pede complemento direto ou indireto)

ao contrário dos verbos transitivos, que exigem complemento, seja este diretom, indireto ou ambos.

Resumindo: acho que o campo de ações dela pode ser os dos verbos INTRANSITIVO e o dele ser dos TRANSITIVOS, ou seja, ele sempre precisa de complemento (PAS-DE-DEUX) e ela não, ela sobra, ela consegue se bastar, afinal, está morta, por isso intransigente, intransigível....

viajando!
obrigado por tudo,
avant

bjos
diogo

--- Em qui, 4/6/09, Jessica B. escreveu:

De: Jessica B. jessiebaasch@gmail.com
Assunto: Re: referências...
Para: "Diogo Liberano" diogoliberano@yahoo.com.br
Data: Quinta-feira, 4 de Junho de 2009, 11:21

Eu não acredito, essa última foto da peça era uma das fotos que eu ia te mandar. Mas amei ver o trailer, porque sempre quis entender direito essa foto.

E esse cabeção é demais. O Ricardo tinha me mostrado uma vez, não sabia que era da mesma peça.

Ótimo você ter mandado o manifesto, já ia pedir pro meu amigo xerocar pra mim. Se quiser eu peço e lhe poupo esse trabalho. rs. Vou dar uma lida agora mesmo.

Eu amo o Polansky, sem dúvida que os filmes dele são maravilhosos - porém nem tinha idéia desse filme. Pode deixar que eu baixo também, não precisa gravar. Aí assisto e a gente já comenta na próxima Terça.

Vou ler tudo isso. Já fuxiquei bastante desse site do Kantor. Viu a "máquina de tortura" do Water-Hen? Tesão. Amei também a cruz do "Veículo funerário". Será que tem outros na mesma linha que ele?

Enfim, vou repassar as fotos que te falei. Tem a da sala de tortura da Argentina (é o título da foto) e outras são salas de tortura e interrogatório esporadicos que achei. Ah, tem uma foto também que é uma dessas sessões de psicodrama - por curiosidade.

Vou adiantando: eu tenho um livro que considero meu segundo livro preferido, do João Ubaldo Ribeiro, chamado "Diário do Farol". É um homem de 60 e poucos anos que mora sozinho num farol, numa ilha inabitada e conta a história de sua vida repleta de atrocidades - o livro termina com ele contando a época que foi um interrogador/torturador da ditadura aqui no Brasil e ele tem um pequeno trecho explicando como é um torturador para ele
"O torturador não é um anormal, é um normal, mas é como se fosse necessário [...] uma espécie de espoleta para detonar nele esse roldão de sentimento animal, que depois se transforma numa cachoeira de gozo e deleite, numa relação indescritível."
Esse é um trecho, te mostro mais ao vivo.

Eu queria ter te falado de um filme que vi na nossa última reunião, se chama 'Grimm Love', mas esqueci. Não sei exatamente se dá pra tirar algum proveito dele, é basicamente a história verídica de um canibal da Alemanha - enfim, qualquer coisa vc me lembra de mencionar na Terça que vem caso eu esqueça de novo. rs

Estou juntando mais coisas - nossa reunião me levantou muitas curiosidades e questionamentos (que bom, né?) e vou esperar ter tudo mais conciso na minha cabeça pra te mostrar.

Agora, pasme: não vai acreditar o que achei na internet!

Um documento entitulado "Manual de Interrogatório". Sim, isso mesmo. É um documento que foi entregue a todos os policiais e interrogadores da Ditadura Militar no Brasil. São 40 páginas e funciona realmente como um manual. Explicando todos os aspectos do interrogatório, o porque, o como, o objetivo e todos os fatores que a comprometem.

Quer que eu passe por e-mail ou levo uma xerox na Terça?
E tome cuidado com o café, procure dormir bem senão as idéias não fluem!

Beijão!

<<<

Gente, tudo está ficando complexo. Corro agora para dar forma. Veio-me agora que posso selecionar matrizes outras que não o texto, que venham com intuito de servir de estímulo para composições e improvisações, com intuito de compreensão e construção da cadeia de horror e afeto de cada personagem. Após isso, volta-se ao texto de Pavlovsky e o potencializa. Algo como a noção de raiz para o espetáculo teatral. O texto dele como raiz. Mas a peça, o espetáculo, a encenação – como fruto – divino, posto maculadamente humano.
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domingo, 15 de novembro de 2009

20 de maio de 2009.

Rio, 20 de maio de 2009.

Não consegui marcar uma leitura com os atores. O Andrêas está com problemas sérios de horário. Nem estou prevendo os horários do próximo semestre. Seria problematizar algo antes de sua hora.

Os encontros com a Jéssica agora se tornaram periódicos. Ontem nos encontramos e na próxima terça também nos encontraremos, sempre de 20h30 às 22h, na ECO.

O que conversamos ontem foi basicamente a noção de horror e afeto que Pavlovsky insinua com seu texto. Falar de horror é ser específico com a tortura. E falar de afeto é ser específico ao se falar de amor. A peça pode ser compreendida com essas duas leituras. Ela é ambígua, por isso não há campo de ação delimitado porque o fechar num desses campos assassina a possibilidade do outro. Assim, coexiste naqueles seres o amor e o ódio, a violência e o afeto. Essa ambigüidade dá o texto, ela o sustenta e dela não quero me desprender porque ela desenha bem como somos nós, seres humanos, esse produto do diverso.

Para além dessas duas leituras possíveis e complementares para a peça – digo complementares pois quando uma falha a outra se faz entendível -, há um terceiro dado que é também uma leitura da peça e que é determinante:
Ela está morta. Ela foi morta por ele. A peça começa segundos após a morte ter sido consumada. Não se sabe se ele percebe isso de imediato ou se vai perceber ali na frente. Não se sabe ainda. Mas ela morreu, foi por ele assassinada. Por isso toda a movimentação desesperada dele no início. Mas do que se responsabilizar pelo assassinato dela, por sua morte, ele sofre e sente pelo vazio no qual se lançou. Ele não a tem mais. Seu corpo não responde aos seus socos. Ele está morto. O corpo. E morta ela, ele enlouquece. É claro que ela está morta, ela diz Não vou falar. Vou ficar em Silêncio. É óbvio que vai ficar em silêncio porque ela não pode falar, porque ela está morta.
Para o próximo encontro de terça, eu e Jéssica levaremos a nossa leitura da peça tendo marcado em quais trechos ela pode ser lida como HORROR ou como AFETO. E pensaremos também a questão de ela estar morta. Para que isso? Para que tenhamos levantado onde a nossa leitura não se justifique, para que a gente feche um entendimento, uma LEITURA POSSÍVEL DE SER LIDA (POR NÓS, PELO ESPECTADOR).

Somente após esses entendimentos é que poderemos pensar plasticamente. A noção estética vem como ferramenta tradutora, é ela – a estética – que dirá certas coisas que determinaremos, é preciso dizer isto por meio disto.

E por último, à Jéssica também lancei a noção de ataque aos inconscientes coletivos. Aquilo que Grotowski tanto fala e que eu me apropriei para este trabalho.

Vamos indo que... (Sem ditados populares, please).
>> Saí do processo de Anatomia Comparada. Só para compartilhar.
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sábado, 14 de novembro de 2009

09 de maio de 2009.

Rio, 09 de maio de 2009.

E sobre o que tenho vivenciado como ator em Amores Risíveis, espetáculo dirigido pela Natássia. Dar tempo de processamento, não significa que há sempre que se fazer muitas coisas num só ensaio. Às vezes, é importante focar e deixar o ensaio por conta daquilo.

Pretendo marcar para o próximo final de semana, sábado dia 16 de maio, a leitura com Andrêas, Nat e Jéssica.
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29 de abril de 2009.

Rio, 29 de abril de 2009.

Não tenho nada para escrever, exceto o que tenho recebido dos primeiros ensaios do outro processo em que estou, Anatomia Comparada, da Cia. Teatro de Demolição, no qual sou assistente de direção.

A importância da improvisação como maneira mais direta e concreta de externalização dos atores daquilo que estão recebendo, ou seja, de todo o conteúdo acumulado. É excelente pensar em materiais bases para improvisar, e pensar a própria improvisação como uma maneira direta de purgar um peso que não pode se acumular, que precisa ser convertido em cena, em algo tátil, sensível ao corpo. Só isso.

Pensando em marcar para o meio de maio um encontro com a equipe (eu, Andrêas, Natássia e Jéssica).
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composições

o trabalho de construção das cenas neste processo está se pautando muito na feitura de composições. como diretor, solicito aos atores que executem uma pequena cena - uma composição - na qual eles devem passar por todos os itens que eu coloco na lista. a obrigatoriedade no cumprimento dos itens determina uma cena que é quase sempre muito original, porque solicito aos atores não algo previsto, mas sim um produto cujos ingredientes por vezes são extremamente ruins de serem somados. é um momento propício para a gênese do contraditório, como costumo dizer.




 



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