\\ Pesquise no Blog

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

# 24

24 de novembro de 2009 - (UNIRIO) - 20h/23h
dan marins e natássia vello.

. eles ensaiaram sozinhos. mais uma vez, não conseguiram cumprir com as solicitações. mas fizeram algo que eu trabalhei no ensaio seguinte. pedi que fizessem uma composição para o EPÍLOGO: A CENOGRAFIA DO ACONTECIMENTO. deveriam se pautar em:

. usar o texto do epílogo;
. ter no máximo 3 minutos de cena;
. propor uma inversão da sequência de movimentos (ELA age como ELE e ELE como se fosse ELA).

. segue-o:
EPÍLOGO. Cenografia do acontecimento

ELA Lá, nas nossas intensidades, focos de luz deformando nossos rostos, a maca em posição inverossímil, a eletricidade e seu protagonismo, as pancadas secas, algodões e o cheiro de sangue coagulado, desafio aos limites de hoje e um pouco mais, os suores frios, a morte espreitando, a música que parecia nascer dos nossos próprios corpos. Nos enganamos quando pensamos que nós é que gerávamos as paixões e a energia, porque quando todo o dispositivo desaparece nos encontramos só com nossa nudez, você e eu, descobrimos com horror que as paixões tão nossas faziam parte da cenografia do acontecimento. Por isso hoje só você e eu enfrentamos o vazio da perda do sentido, e isso é insuportável. Na minha memória só ficou disso tudo a lembrança dos movimentos.
ELE Me apoderar do seu corpo, dos buracos dos seus cheiros
cada zona do seu corpo que eu golpeava
sabia a cor de cada um dos hematomas
antes tinha algum sentido, diziam que eu não conseguiria te tirar nenhum nome nunca...
agora não te entendo você pode gritar meu nome para todos e outra vez prefere calar e não falar
confessa filha da puta grita quem sou eu quem fui grita o que aconteceu entre nós não me negue mais.
Porque eu existi. Eu fui.
Por quê? Por quê? Por que não diz o meu nome?
ELA Não direi o seu nome. Você preferiria que eu te denunciasse, que contasse tudo
Sei que assim você se sentiria melhor orgulhoso de que todos soubessem que me bateu.
Você quer ser herói como todos os demais orgulhosos outra vez do que fizeram
orgulhosos de andar soltos desafiando e ameaçando sempre... outra vez heróis...
você é muito deturpado eu não vou dizer nome você vai seguir esperando sempre...
será esse seu pequeno tormento te conheço bem
é a única maneira de estar prisioneiro não vou falar
não te conheço você é irreconhecível mais um de todos eles
você quer ser herói e se sente herói e se sente anônimo...
Vou ficar em Silêncio. Meu Silêncio é sua prisão. Meu Silêncio são os gritos em sua cabeça ali ninguém vai poder te soltar
você sabe que não
prisioneiro dos gritos prisioneiro dos pânicos
talvez algum dia quem sabe ou talvez nunca
porque agora o tempo é meu.
Não vou falar,
Não vou te fazer herói nunca
você vai continuar esperando fechado no meu Silêncio.
Não vou dizer o seu nome...

. o que eu visualizo com este epílogo (e por isso o nome dado é cenografia do acontecimento) é uma virada do espetáculo (e da personagem femina) onde ELA chama a atenção d'ELE para o fato de eles fazerem parte de um todo muito maior. para o fato, duro como pedra, de que a história deles é só mais uma, para o fato de que ele é tão anônimo quanto herói e que tudo isso pode não significar nada num dado momento. ela destrói o cara nesta hora. ela se destrói por fim, porque ele é a sua única segurança. é apenas ele que vela pelo corpo morto dela. mas é preciso. em NÂO DOIS, os dois terminam partidos. algo como uma lógica de simetria perfeita. onde cada um tem de volta aquilo que propaga. bizarro. acho isso muito difícil de avaliar, de compreender, de aceitar...
.