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domingo, 24 de abril de 2011

RESGATE

Como escrever isso que vou tentar agora? NÃO DOIS termina no exato instante em que percebemos que a existência de um acaba também quando a do outro acaba. Que final fatídico, que determinação quase grega, inexorável.

O amor talvez pudesse ser mais livre, eu penso agora, olhando para trás e vendo o atrás novamente agora ao meu lado. Sim, não precisa morrer, não precisa matar. Para além de tudo o que eu acho sobrevivem os corpos a se procurar. E é nessa toada que toda a ficção se recria. É no seu ir e no meu vir que as coisas todas se reescrevem e a inexatidão dessa inscrição é o que nos guia.

Sim, parece tudo muito solto, mas é como eu penso neste instante. São corpos que seguem vagando e vagar é desde já ação no tempo. Se ELA hoje se encontra só, se ELE morreu sem o seu corpo ali disponível (a todo e qualquer ato seu, a todo e qualquer soco ou beijo), bom, não podemos afirmar que isso seja um fim.

O fim é uma coisa que não existe, a princípio, pois o corpo sabe hoje bailar até mesmo a sua perdição. E então a Natássia posta esse vídeo com esse belo nome chamado ten duets on a theme of rescue. full. Talvez o full não fizesse parte, apesar de fazer todo o sensível. Quer dizer: dez duetos num tema sobre resgate. E isso tudo chega enfim ao fim por inteiro, por completo.

NÃO DOIS. Não mais dois, talvez. Não é número, talvez, hoje, mais do que nunca, seja sobre aprender a ser um e ser o outro. Seja sobre alguma outra coisa que não somente sobre impedimento. Que amor matamos ao teorizá-lo? Que terror resolvemos no verbo e não deixamos correr pelo corpo? O tema do resgate me sugere mais do que nunca tentar de novo. E talvez nisso encontraremos nossa vocação. E talvez nesse se purgue a existência e se colora de novo um novo horizonte.

Um novo chão. Uma nova cena. Dez novos duetos em composições mil. O fim só faz sentido se eu ver lado a ele a sua tentativa tenaz de um recomeço. Fim pelo fim a gente fica onde está e não se fala mais nisso. A nossa peça pode ser pessimista, mas ninguém sabe que dentro de nós – artistas – ainda batem três músculos involuntários.

Um documentário cênico, talvez. A ação do tempo. Mais meta impossível. Desenvolvimento. Minhas intuições estão lacradas, a espera de vocês, atores. Busquem-me, os dois, ao mesmo tempo. Para que possamos enfim conversar sobre o que, sendo nosso, anda de nós perdido e ao relento. Sim, a poesia por vezes coincide com a vida. O que fazer? Responder a altura. Responder a altura.

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Diogo Liberano