o que dizer sobre este espetáculo?
começou como conclusão de uma disciplina curricular do curso de Artes Cênicas: Direção Teatral da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ – no qual sou aluno. cumpriu suas únicas três apresentações em dezembro de 2009 e agora volta para uma primeira temporada.
parte do texto PASO DE DOS do excelente dramaturgo argentino Eduardo Pavlovsky. o nome do espetáculo acabou se tornando NÃO DOIS, que por sua vez, surgiu de uma tradução do título em frânces da peça, PAS-DE-DEUX. o “pas” em francês é particula de negação. e a encenação que construímos parte de um esforço para quebrar a dicotomia que se instaura sob variadas formas e nos impede de ver a complexidade da vida, de entrar em contato com ela.
assim, esta encenãção apresenta uma relação entre um homem – ELE – e uma mulher – ELA. uma relação que chegou ao fim. parte da vontade de investigar a possibilidade do amor e do horror num mesmo gesto. tem a ver com pontos de vista. não desejamos dizer o que é e o que não é. mas sugerir, atentar para o fato de estarmos todos sujeitos a interpretações. atentar para o fato – sim, duro como pedra – de que não detemos em nós sentido algum.
o significado está no outro. e quando o outro acaba ou quando acabamos com o outro, eis que surge o silêncio. e o vazio. e assim o término das intensidades. da experiência de vida.
em cena, uma partitura que se repete inúmeras vezes pela dupla de atores. ora estão juntos, ora em separado. com variação de direção, ritmo, intenção. a partitura é o desenho dessa relação que hoje não existe mais. a partitura como tentativa de evocar pelo movimento a vida já perdida, acabada. o esforço da repetição.
termino essa postagem com um lindo trecho do espetáculo:
ELA Necessidade de te contar coisas, palavras que crescem quando juntos
apesar de você e de mim
apesar de nossa história sempre tão diferente, tão horrivelmente diferente
só crescem
não por você e por mim
brotam sempre palavras onde só deveria existir o grande Silêncio das gritarias
cresce a lembrança apesar dos dois
que estranho espaço teremos inventado
que às vezes não posso deixar de te falar malgrado minha vontade...