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domingo, 24 de fevereiro de 2013

lembro que não tinha som ---

e no entanto, os corpos iam. dançavam, giravam, se batiam e se debatiam e de novo se colavam. mesmo distantes, os corpos dos atores se precisavam, se pediam e se machucavam. existe algo nessa dramaturgia que clama à necessidade de um ao outro. é uma cola, é invisível, mas puxa, prende e machuca. é uma fixação que não ouve, que só fala, que só grita e cospe e sacode. necessidade e fixação. fixação é algo tão morto. tão fadado ao descontentamento. lembro que não tinha trilha sonora a nossa montagem de paso de dos, mas que no entanto dançavam os dois atores. eles dançavam o vazio do silêncio.

e agora, josé? eu sei lá, eu sei lá. talvez quisesse que desse vez a dança estivesse mais presente. mas sei que isso é papo, porque não preciso ter dança para dizer teatro-dança. não preciso ter aula de dança contemporânea para mexer os corpos em cena. existe uma coisa que se chama não intencionar. talvez essa seja a principal ferramenta conquistada como diretor em alguns anos de experiência junto ao teatro inominável. sem exceder dentes, como costumo dizer, é preciso deixar que se aflore as vontades, os desejos e as manifestações de afeto. o projeto vai se dizendo e se moldando, desde que se escute sua fome.

por isso, a coisa de dançar é preciso deixar solta, perdida, sem dar a devida atenção. com o tempo, a dança vem e fica. a coisa vem e se crava. sem anteceder desejos, uma peça de teatro é menos vontade e mais contexto. eu aqui me espremendo - de leve - para, aos poucos, voltar aos projetos já feitos, mas como fênix, renascendo das cinzas. não dois. em breve, daqui a pouco, já já.

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