21.09.09
Além de desumana, tortura não funciona, diz neurociência
Estresse e ansiedade de interrogados afeta funções ligadas à memória.
Técnicas de interrogatório coercitivas empregadas pela administração George W. Bush para extrair informações de suspeitos de terrorismo não serviram para nada e, além disso, acarretaram no final das contas efeitos negativos não previstos sobre a memória e as funções cerebrais dos interrogados. Pesquisa publicada nesta segunda-feira (21) na revista especializada “Trends in Cognitive Science” debruçou-se sobre as evidências científicas disponíveis para concluir que o estresse contínuo e extremo, sem falar na ansiedade, têm influência destrutiva sobre as funções cerebrais relacionadas à memória. O trabalho foi liderado por Shane O’Mara, do Instituto de Neurociência do Trinity College, em Dublin (Irlanda).
Memorandos do período Bush liberados pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos em abril deste ano, já na gestão Barack Obama, detalhavam as técnicas de “interrogatório coercitivo” sugerindo que períodos prolongados de choque, estresse, ansiedade, desorientação e falta de controle seriam mais eficazes do que os interrogatórios-convencionais (considerando, imagina-se, os padrões vigentes em um Estado de Direito) para que suspeitos revelassem informação confiável.
Essa avaliação um tanto quanto chocante é alicerçada em duas premissas. A primeira é que os indivíduos são “motivados” a revelar informação verídica para dar fim o quanto antes possível ao interrogatório. A segunda é que estresse extremo, choque e ansiedade não impactam a memória. Se qualquer criança vai concordar que a primeira premissa faz sentido, a segunda, ao contrário, simplesmente não é apoiada por evidência científica nenhuma, aponta O’Mara.
Estudos psicológicos indicam que, em estresse e ansiedade extremas, o preso fica condicionado a associar fala a períodos de segurança. Mas é difícil, senão impossível, determinar durante o interrogatório se o investigado está revelando informações verdadeiras ou apenas falando para escapar da tortura. O estudo mostra ainda que estresse extremo exerce ação destrutiva no lobo frontal e está vinculado à produção de falsas memórias.
Estudos neuroquímicos revelaram que o hipocampo e o córtex pré-frontal, regiões do cérebro essenciais para o processo da memória, são ricos em receptores de hormônios ativados por estresse e privação do sono. “Para resumir uma vasta e complexa literatura: estresse prolongado e extremo inibe os processos biológicos que dão suporte à memória no cérebro”, diz O’Mara. “Dado nosso conhecimento atual em neurobiologia, é improvável que interrogatórios coercitivos facilitem a liberação de informação verdadeira a partir da memória de longo prazo. Ao contrário, essas técnicas comprometem o tecido cerebral que dá apoio tanto à memória quando ao processo decisório.”
fonte: http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL1312480-5603,00-ALEM+DE+DESUMANA+TORTURA+NAO+FUNCIONA+DIZ+NEUROCIENCIA.html
Além de desumana, tortura não funciona, diz neurociência
Estresse e ansiedade de interrogados afeta funções ligadas à memória.
Técnicas de interrogatório coercitivas empregadas pela administração George W. Bush para extrair informações de suspeitos de terrorismo não serviram para nada e, além disso, acarretaram no final das contas efeitos negativos não previstos sobre a memória e as funções cerebrais dos interrogados. Pesquisa publicada nesta segunda-feira (21) na revista especializada “Trends in Cognitive Science” debruçou-se sobre as evidências científicas disponíveis para concluir que o estresse contínuo e extremo, sem falar na ansiedade, têm influência destrutiva sobre as funções cerebrais relacionadas à memória. O trabalho foi liderado por Shane O’Mara, do Instituto de Neurociência do Trinity College, em Dublin (Irlanda).
Memorandos do período Bush liberados pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos em abril deste ano, já na gestão Barack Obama, detalhavam as técnicas de “interrogatório coercitivo” sugerindo que períodos prolongados de choque, estresse, ansiedade, desorientação e falta de controle seriam mais eficazes do que os interrogatórios-convencionais (considerando, imagina-se, os padrões vigentes em um Estado de Direito) para que suspeitos revelassem informação confiável.
Essa avaliação um tanto quanto chocante é alicerçada em duas premissas. A primeira é que os indivíduos são “motivados” a revelar informação verídica para dar fim o quanto antes possível ao interrogatório. A segunda é que estresse extremo, choque e ansiedade não impactam a memória. Se qualquer criança vai concordar que a primeira premissa faz sentido, a segunda, ao contrário, simplesmente não é apoiada por evidência científica nenhuma, aponta O’Mara.
Estudos psicológicos indicam que, em estresse e ansiedade extremas, o preso fica condicionado a associar fala a períodos de segurança. Mas é difícil, senão impossível, determinar durante o interrogatório se o investigado está revelando informações verdadeiras ou apenas falando para escapar da tortura. O estudo mostra ainda que estresse extremo exerce ação destrutiva no lobo frontal e está vinculado à produção de falsas memórias.
Estudos neuroquímicos revelaram que o hipocampo e o córtex pré-frontal, regiões do cérebro essenciais para o processo da memória, são ricos em receptores de hormônios ativados por estresse e privação do sono. “Para resumir uma vasta e complexa literatura: estresse prolongado e extremo inibe os processos biológicos que dão suporte à memória no cérebro”, diz O’Mara. “Dado nosso conhecimento atual em neurobiologia, é improvável que interrogatórios coercitivos facilitem a liberação de informação verdadeira a partir da memória de longo prazo. Ao contrário, essas técnicas comprometem o tecido cerebral que dá apoio tanto à memória quando ao processo decisório.”
fonte: http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL1312480-5603,00-ALEM+DE+DESUMANA+TORTURA+NAO+FUNCIONA+DIZ+NEUROCIENCIA.html