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segunda-feira, 29 de julho de 2013

:: SATURAÇÃO :: ESGOTAMENTO :: EXAUSTÃO ::

As "performances mentais" de Bruce Nauman. Os escritos de Nauman para "performances mentais", por assim dizer, elaborados entre no fim da década de 1960 e meados da década de 1970, confirmam a importância para o artista da ideia de controle, sobretudo a de autocontrole. As "performances mentais" se assemelham a diretivas para ações e, embora funcionem mais propriamente como proposições a serem imaginadas, não pretendem experiências de descompressão, conforme se poderia supor à primeira vista. Em vez disso, demandam exercícios disciplinadores, restritivos e que, por isso, soam tal qual testes de contenção e de autodomínio. Veja-se, por exemplo, French Piece [Peça francesa (1968)], um conjunto de pequenos textos nos quais são prescritos métodos para transformar o corpo em cilindro ou em esfera, como se de cada fibra muscular fosse exigida muita concentração para se alcançar um objeto geométrico o mais perfeito possível. Corpo como uma Esfera. Enrole seu corpo junto ao canto de um quarto. Imagine um ponto no centro de seu corpo enrolado e concentre-se em contrair seu corpo ainda mais em torno desse ponto. Em seguida, tente pressionar esse ponto na direção do canto do quarto. Fique claro que não se pressupõem essas posições como fixas, a serem praticadas por uma hora todos os dias; elas são, na verdade, atividades ou processos físicos e mentais a serem desempenhados. No início, quem os desempenhe precisará repetir o exercício algumas vezes de modo a preencher a hora, mas ao fim de cerca de dez dias, ele ou ela será capaz de estender sua execução a uma hora inteira. O número de dias necessários para uma performance ininterrupta de uma hora depende naturalmente da receptividade e da preparação de quem a executará23. O tipo de engajamento mental requerido é evidente em Body Pressure [Pressão corporal (1974)]24, trabalho no qual são prescritas maneiras de pressionar com veemência o corpo contra uma parede ("pressione a maior parte possível da superfície frontal de seu corpo contra a parede [...] pressione arduamente e concentre") e anunciados comandos que implicam exercícios de imaginação ("forme uma imagem de si mesmo [...] no lado oposto da parede, pressionando arduamente contra a parede") que culminam na remoção mental da referida parede ("comece a ignorar ou bloquear a espessura da parede, remova a parede"). Logo depois, há a convocação de um aspecto mais sensório da proposta: "pense como várias partes de seu corpo pressionam a parede, que partes a tocam e que partes não a tocam [...] concentre-se na tensão dos músculos, na dor onde os ossos se encontram, nas deformações das carnes que ocorrem sob pressão, considere os pelos do corpo, suores, odores". E, por fim, o texto se encerra com a seguinte sugestão: "isto pode se tornar um exercício muito erótico". Diga-se que há, evidentemente, algo desse erotismo no caminhar moroso em que Nauman atrita os quadris no corredor. Em meio à experiência reguladora que se dá entre o corpo e as paredes, o corpo é constrangido a atinar com os limites ao mesmo tempo em que os demarca e confronta. Encerrado em espaços forjados para si, o corpo comporta-se de modo ambíguo, tal como se encontrasse abrigo e repouso contra as superfícies que o envolvem tanto quanto o refreiam e obstruem; superfícies que se definem na negação mesma do movimento. Parece que o corpo termina por se adaptar aos espaços de "clausura", como se fossem feitos para tal submissão: "da claustrofobia à claustrofilia". O link aqui: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1678-53202011000200011&script=sci_arttext