Caríssimo,
Eu vim para confundir e não para explicar. Então, lá vai: O texto não me convence de que ela está morta. Há (houve) uma relação de violência/tortura/intensidade/corpos intensos se relacionando... Ele realmente quis arrancar informações (nomes) dela através da violência física; ele realmente se apaixonou obsessivamente por essa relação; ela realmente silenciou: Tudo isto o texto nos dá. O texto nos dá também que ele quer que ela o denuncie. É onde mora o tormento dele: Ele quer seu nome na história, seu trabalho(?) reconhecido, ElE QUER QUE ELA O DENUNCIE PARA OS VIVOS!!!. É aí que a morte dela não houve pra mim. A denúncia, "conta o que eu te fiz", não acontece entre os mortos, no "espiritual" ou na loucura dele. Este não seria "seu triunfo". É algo bem concreto, daqui do terreno: Há uma torturada,com nome e identidade, uma vítima do autoritarismo do homem, dos governos ou do sei lá o quê. E o torturador é anônimo. É o vil que, tempos depois, em uma sociedade mais "esclarecida", não merece uma identidade. E essa é a loucura/tormento dele: não conseguir o seu lugar na história.
" Sei que assim você se sentiria melhor orgulhoso de que todos soubessem que me bateu."
Num texto onde a palavra é tão certeira/literal/efusiva, esse "bateu" não é muito pouco pra ser dito por uma morta, um fantasma, na cabeça/alucinação de um louco que a teria matado?
Acho que:
- OU encaramos como um encontro factual, real, "no mundo dos vivos", entre um torturador e uma torturada, com todas as implicações psicológicassentimentaisexperienciais que esse tipo de relação pode trazer - "A morte e a donzela": Há horror, há tortura, há ressentimentos, mas os personagens seguem suas vidas bem vivas, com concerto e tudo; (o que é, na minha opinião, ao que uma leitura sóbria do texto remete)
- OU partimos pra metafísica, espiritismo, demência, alucinações, ciências ocultas e damos á esse texto um fantasmagorismo que pode ser muito interessante, porém talvez algo fantasioso e pr´além do que o texto nos diz de fato.
É isso, meu caro. Nos vemos mais tarde.