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quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Sobre a MORTE em PDD

A partir da última postagem feita pelo Dan, sinto que se torna possível fechar algum entendimento sobre a noção de MORTE em PDD.

Sem dúvida, o texto não nos convence de que ela está morta. Essa é uma visão sobre o texto, uma leitura específica que fiz sobre o original. Parto dessa primeira relação que é literal (como o Dan mesmo disse "uma relação de violência/tortura/intensidade/corpos intensos se relacionando... ") e lanço a sua trivialidade, a sua "normalidade" para dentro de uma estrutura mais aberta, mais assustadora, talvez mais incoerente, quero situar o espetáculo dentro de um universo que é maior do que nós, num primeiro instante. Essa sensação de ser maior vem unicamente porque somos incapazes de compreender tudo ao redor. Acho que estamos também falando de uma falência do homem enquanto Deus, ou, de uma percepção do quanto - apesar de não querermos - somos ainda humanos, demasiadamente humanos.

Assim, a questão da violência física chama a atenção pela coexistência com a relação afetuosa entre os dois personagens. E aqui o embate é dado pelo desejo (d'ELE) de querer o reconhecimento (NOME) e o desejo (d'ELA) de negar o mesmo (SILÊNCIO). E o Dan traz uma das questões mais essenciais, aquela na qual reside mesmo todo o tormento do personagem masculino:
"Ele quer seu nome na história, seu trabalho(?) reconhecido, ELE QUER QUE ELA O DENUNCIE PARA OS VIVOS!!!"
Em seguida, Dan argumenta que "é aí que a morte dela não" acontece em sua opinião. No entanto, é aqui que eu acho que reside a questão, ELE quer que ELA o denuncie ("conta o que eu te fiz"), algo terreno, algo mundano, cotidiano, simples, óbvio, natural... No entanto, observem: ELA o recusa. ELA não diz nada. A percepção de que ela se cala se estende de sua postura quando viva (a de SILENCIAR) e mantém sentido agora morta, porque estando morta, ela não pode falar, como antes. É compreensível? HOJE ELA CALA NÃO PORQUE QUER (POR ISSO ELA TAMBÉM FALA DURANTE O ESPETÁCULO), MAS HOJE ELA CALA PORQUE JÁ NÃO TEM VOZ. NÃO TEM NADA. ELA MORREU.

Dessa forma, acho que "essa é a loucura/tormento dele: não conseguir o seu lugar na história". E ele não consegue seu lugar na história por conta própria. Podemos dizer que a culpa é dele. Que ele gerou o seu não-reconhecimento. A violência mata também quem violenta. Ela volta. Ela se modifica e ganha o corpo de quem também a praticou.

Gosto quando Dan sugere que talvez seja pouco ela apenas dizer que ele a "bateu". Sendo morta, não parece mesmo pouco ela dizer isso? Por isso, acredito, existe a ação. O esforço de relembrar e de reviver os horrores. Acho que pela repetição ela lança ele no meio do horror que é, assim como estar morto, estar vivo.

Dan, então, coloca duas possibilidades: 1ª) "ou encaramos como um encontro factual, real, "no mundo dos vivos", entre um torturador e uma torturada" ou; 2ª) "partimos para metafísica, espiritismo, demência, alucinações, ciências ocultas e damos a esse texto um fantasmagorismo que pode ser muito interessante, porém talvez algo fantasioso e pr´além do que o texto nos diz de fato".

Acho que é desse encontro que estamos falando. Desse dilatar provocado pela obra de arte. Dessa resignificação. Desses gestos que poderiam ser apenas uma reprodução de movimentos mas que trazem algo mais. Acho que as duas formam um pas-de-deux a partir do qual é possível caminhar...
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