ELA Lá, nas nossas intensidades, focos de luz deformando nossos
rostos, a maca em posição inverossímil, a eletricidade e seu protagonismo, as
pancadas secas, algodões e o cheiro de sangue coagulado, desafio aos limites de
hoje e um pouco mais, a música que parecia nascer dos nossos próprios corpos.
Agonias, os suores frios, a morte espreitando, tudo isso reunido entre nós,
objetos com força própria, movimentos diferentes e ali nossos corpos, fazendo
parte de tudo isso. Nos enganamos quando pensamos que nós é que gerávamos as
paixões e a energia, porque quando todo o dispositivo desaparece nos
encontramos só com nossa nudez, você e eu, descobrimos com horror que as
paixões tão nossas faziam parte da cenografia do acontecimento. Por isso hoje
só você e eu enfrentamos o vazio da perda do sentido, e isso é insuportável. Na
minha memória só ficou disso tudo a lembrança dos movimentos.