ELE (enquanto fala
deve realizar todos os movimentos sugeridos pelo texto) Olhando para a frente. Talvez
de perfil. Agora olho na minha mão. Viro a cabeça para a direita, agora para a
esquerda, posso olhar outras vezes para a frente. Pausa. Não. Tenho que fazer alguma
coisa, golpeio meu joelho esquerdo. Me levanto. Me sento. Coço o nariz. Trato
de que cada gesto tenha sentido, quer dizer, que adquira uma dimensão de
espontaneidade. Não quero vazios. Olho para a frente, bruscamente para trás. Me
agrada olhar um ponto fixo. Me sustenta. Lustrada de sapato nas calças. Necessito
de mais atos. Uma boa massagem no pescoço, rotação de cabeça. Tudo como se
fosse normal. O tempo se deteve. Um bocejo, outro bocejo, um leve sorriso, uma
penteadinha, coçada na testa, batidinha de sapato no chão. Assobio. Assopro.
Vou ao banheiro. Não estou com vontade. Volto. Me sinto bem. É preciso aprender
a se sentir bem. Olho o teto. Como falta ainda, meu Deus! Lustro outra vez o
sapato direito. Faço de conta que penso em algo concreto que me preocupa. Faço gestos
de quem descobre alguma coisa. Assumo uma cara de safado. Imagino que me lembro
de uma aventura amorosa. Imagino os lugares. Me distraio um momento. Volto ao
vazio. Não! Quanto falta? Penso em minha mãe. Tento reter a imagem do rosto da
minha mãe. Me lembro. Me coça o nariz. Deixo que me coce... para ganhar tempo
enquanto me coço. Me coço um pouco. Me esfrego. Uma pausa depois de tanto
esforço. Que fazer, meu Deus! Um pouco de esperança. Dura pouco. Agora,
desesperança. Finjo que esqueço uma coisa e agora me lembro. Abro a boca.
Fecho. Tusso. Tusso duas vezes. Tusso três vezes. Agora finjo que me sufoco.
Faço de conta que me recupero. Como continuo? Quanto falta? Mudo a cadeira de
lugar. Torno a mudar a cadeira de lugar. O tempo não passa. Me sento no chão. É
bom sentar no chão, muito bom. Ando. Paro. Ando. Mexo os quadris. Sou homem.
Sou mulher. Sou criança. Sou animal.
Que pretensioso! Um pouco de representação, um pouco de
humor, de bom humor, de humor fino, de humor inglês.
Pausa. Pausa. Pausa. Comecemos outra vez. O que acontece se
eu me deixo ficar? As imagens se detêm. As caras como imagens sem dimensões.
Tudo plano. Talvez um pequeno discurso, ou melhor, um método, algum recurso que
pudesse me distrair... Pausa. Quanto falta, meu Deus! Como demora... tudo isso
demora muito... pensar eu não posso... já gastei o pensamento de sustentação...
preciso de altos, ações...