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domingo, 1 de novembro de 2009

# 14

30 de outubro de 2009 - Sala 200 (UNIRIO) - 16h/23h
dan marins, diogo liberano e natássia vello.

também nesta semana perdemos vários ensaios. neste ensaio, trabalhei o prólogo somente com o dan. e depois reforçamos os trabalhos do quarto movimento e erguemos o terceiro. podemos dizer que já temos 12 minutos de peça (para um espetáculo de 30 minutos, estamos indo...).
 
Prólogo
 
minha preocupação principal foi a de fazer o dan perceber que este cara está tomado pelo esforço de repetição. e que isso é sincero. ele precisa repetir para afastar a cabeça de pensamentos que o coloquem em contato com o problema. é um esforço sincero e do momento. ele não sabe a ação que virá a seguir. ele diz "olhando para a frente..." e ao fazer surge outra ação que ele lança na lista.
 
temos dois momentos claros no prólogo. no primeiro, ELE consegue seguir as ações ao mesmo tempo em que as fala. no segundo momento (marcado por um longo momento de silêncio das ações mesmo elas sendo ditas), ele cai inevitavelmente numa reflexão sobre o que aconteceu e retoma as ações que havia narrado sem ter feito. acontece um delay, um atraso. ele continua a fazer ações que já não condizem com o que diz. é um caminho para a exaustão, o prólogo. e para o desespero. estamos chegando. no próximo ensaio já poderemos fechar o prólogo (ainda sem a inserção da natássia).
 
Quarto Movimento - Intensidade
 
começamos passando o texto. o jogo era o seguinte: quem falava tinha o corpo manipulado por quem estava em silêncio. a idéia é manipular o corpo do outro com intuito de alterar a qualidade das falas. aqui reside um trabalho que daqui a alguma semanas eu pretendo lançar na mão de uma preparadora vocal. preciso de gráfico na voz dos atores. não somente quanto à intensidade, mas sobretudo, quero os graves, agudos e meios do caminho da voz de cada ator.
 
repetimos a partitura do quarto movimento. a partir de DV8, os atores trouxeram uma mudança que foi aglutinada à sequência de movimentos. repetimos algumas vezes e me tranquiliza obsersar que as intenções que até então eram tímidas ou sequer exitiam, começam a surgir, começam a se insinuar.
 
Terceiro Movimento - Tortura
* Acho que eu entendi um pouco mais do percurso da encenação. Estou conseguindo tecer uma linha narrativa, digamos assim. 1) PRÓLOGO: UM FIO PARA SEGUIR - o cara é pego no momento imediatamente posterior ao crime, é pego desesperado logo após ter matado a mulher; 2) PRIMEIRO MOVIMENTO: SIMULAÇÃO - ele embarca rapidamente num jogo de repetição, como se repetindo o que viveu pudesse dispersar o fato de a ter matado. ela ainda ali repete junto com ele, os dois juntos num limbo do tempo, num pequeno fragmento imenso - aquele no qual tudo ao mesmo tempo se perde e perdura; 3) SEGUNDO MOVIMENTO: MEMÓRIA - ele acelera ainda mais a sua viagem ruma ao que passou, por isso vai lembrando de coisas pelas quais passou e nisso acaba despertando nela a gênese do horror, é quando ela se descobre morta e rapidamente se volta contra tudo isso; 4) TERCEIRO MOVIMENTO: TORTURA - ela cai no jogo dele de relembrar o que aconteceu e se permite torturar de novo, numa relação ambígua, pois ser torturada é primeiro um horror, mas num segundo momento é poder se sentir viva, pulsante, novamente; 5) QUARTO MOVIMENTO: INTENSIDADE - o jogo se intensifica e ela se apodera da violência recebida e a devolve a ele. todo o horror por sobre ela praticado é agora devolvido, numa vingança crua e desmedida, o horror é devolvido, a vítima é quem agora tortura o torturador; 6) EPÍLOGO: CENOGRAFIA DO ACONTECIMENTO - a vítima assinala a tortura negando o violentador diante do público. a obra se abre e devolve aos personagens o seu tamanho real, a sua humanidade. não são deuses, não são máquinas. podem ser coadjuvantes, peças num jogo maior. podem não ser os donos da realidade, podem ser mera reprodução. e isso os aniquila. foram usados para revelar, mas não são em si a revelação. esta se encontra no espectador, em quem assiste.
começamos passando o texto. o jogo era o seguinte: quem falava tinha o corpo agredido por quem estava em silêncio. a idéia era criar um jogo de agressão, que podia se dar em diversos níveis. isso causou de imediato um incômodo muito grande entre os dois atores. natássia não conseguia se deixar bater, mesmo que gostasse de bater no dan. criou-se uma atmosfera tensa e muito interessante. o jogo não chegou ao seu fim. propûs que então quem estivesse em silêncio pudesse dar um abraço muito apertado no outro.

pedi que selecionassem uma imagem da partitura de movimentos que fizesse sentido para a noção de tortura diante da visão de cada personagem. naturalmente, cada um escolheu uma imagem onde seu personagem estivesse numa posição dominante (dan escolheu uma em que enforcasse ela. e nat uma em que estivesse sentada sobre ele).

testamos duas possibilidades para o terceiro movimento. primeiro atentei para a mudança de direção. (observar desenho a seguir).


a primeira possibilidade foi tentar fazer como no quarto movimento, onde os movimentos vão juntos com o texto. não ficou muit legal. na verdade, não dava leitura possível para o entendimento do terceiro movimento. a segunda tentativa foi a seguinte: o primeiro trecho do movimento (uma fala razoavelmente longa d'ELE) vinha enquanto os dois estavam abraçados. dali, com o término da fala, os dois aceleravam a partitura (SEM DIZER O TEXTO) até a primeira posição (na qual ELE se apodera d'ELA). nesta posição o início do texto (QUEM, QUEM ELA, QUEM... veja o trecho aqui no blog) ia até um momento que elegemos como virada.

daí, eles seguiam até a próxima posição, na qual ELA se apodera d'ELE (neste momento, o texto voltava até o final do, digamos, interrogatório). como o texto do terceiro movimento é curto (porque é marcado por falas que são uma ou duas palavras), sobrou tempo de movimento. então trabalhamos duas repetições da partitura de movimentos. uma repetição inteira e uma repetição apenas com os movimentos mais violentos.

depois dei um tempo para que os atores fizessem uma composição de costura entre o terceiro e o quarto movimento. pedi que nessa costura houvesse uma expressão de cansaço para ELE e uma ação feita simultaneamente pelos dois. eles fizeram uma expressão de cansaço para os dois e uma expressão de desespero para o personagem masculino. disso, caem sem perceber no abraço final que inicia o quarto e último movimento.

no trecho do movimento (interrogatório) em que ELA começa a especular nomes e tal, pedi que a nat começasse a trabalhar com essa invenção sendo feita na hora. pedi que desenhasse de alguma forma os nomes e as relações inventadas para servirem de alimento ao que ELE exigia dela. (um caminho a ir desenvolvendo).

Observações geradas pós-ensaio

. necessidade de trabalhar a voz dos atores (quero gráfico vocal, oscilação, perda da identidade vocal masculina e confusão do registro feminino com o masculino);
. começar a trabalhar o olhar para a estrutura ali estática (o corpo morto d'ELA);
. apropriação e modificação dos movimentos de acordo com a estrutura do movimento (poder mudar gestos, ações e movimentos a fim de dotar-lhes de leituras que serão mostradas apenas uma vez).
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