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terça-feira, 3 de novembro de 2009

20 de janeiro de 2009.


Vassouras, 20 de janeiro de 2009.

Medo profundo. Esse texto é muito complicado. E o dilema chegou mais rápido do que esperava (como se fosse novo): fazer o já pensado ou descobrir um outro caminho? Talvez eu deva fazer o já pensado, porém pela forma que os atores fizerem nos ensaios. Eu acho que entro numas questões que não deveriam ser preocupações. De qualquer forma, se nela eu entrei é porque deve ter alguma coisa. Como atores, eu pensei no Ticiano e na Natássia, dois amigos de turma, que tive o prazer de dirigir em Jogos na Hora da Sesta. Acho que pode ser um trabalho intrigante para os dois, caso, e somente se, a minha proposta para o texto também trouxer algo de refrescante.

Voltando aos textos estudados na faculdade. Lendo Em busca de um teatro pobre, de Jerzy Grotowski. Nesse sentido, tudo o que eu preciso é pesquisar este teatro, essa proposta. Nada pode ser mais essencial, neste momento, do que o trabalho com os atores, do que pensar o que eu quero causar no espectador, do que é possível desprender desse choque atores versus espectadores. Pensar nisso pode consumir tudo, e talvez aqui se encontre um bom motivo para deixar-se ser consumido.

Sobretudo, pensar o que eu quero dizer com esse texto. E desvendar, pela própria encenação, esse querer, para torná-lo legível. Então eu me pergunto, o que eu quero com PDD? Vamos tentar nas próximas linhas responder:

PDD me chama atenção pelo poético, mas, sobretudo, pela violência disfarçada em poesia. A violência dos versos. A violência dos ritmos. A construção do drama que não precisa se explicar tanto, do drama que se constrói na reunião dos cacos. Dois personagens bem delineados, isso dá fome de dirigir. Uma relação onde força não tem a ver com musculatura. Onde gêneros (masculino e feminino) desprendem-se facilmente de tudo que os rotula para encontrar enfim a liberdade – maldade – dos sexos. Gêneros aproveitam-se de seus clichês e subvertem-se com mais forças. O feminino extrapolando a docilidade. O masculino diante do pós-soco, morrendo pela fragilidade. Ansiedade. Ansiedade. Dois pólos.

Sobretudo, trabalhar o que possa ser uma encenação. Quais estruturas já fixadas me servem e quais não? O que significa pensar – ou não – o palco italiano? O que significa o tom em que atuam os atores? Qual é a necessidade de representação e qual é a necessidade de atuação, de ver os atores falando de si mesmos, sem fingir, sem ser outra coisa além do que já são? Eu acho que pensar uma encenação deve agora vir desde o começo. Pensar desde o início o porquê das coisas é um ótimo pretexto para encontrar com os atores uma forma para aquilo que está sendo apresentado. Eu acho que a minha ansiedade em encontrar forma é natural. Mas penso que talvez o que eu tenha que ter mais claro sejam as questões existenciais. No sentido de que o mais importante é realmente ir tendo clareza do local exato onde o texto em mim reverbera. É ter noção exata do que nele me é realmente imprescindível.

Pode ser interessante também o trabalho com a palavra. Afinal, são os dois ali falando. Por mais que eu tenha que pensar um local da ação, imprescindível, o local da fala é o local primário por excelência. Comunicam-se por ela. A fala é a principal ação. Logo, o pensamento mal se formula e já adquire no verbo a sua primeira textura. A necessidade de te contar coisas... Malgrado minha vontade.

Um segundo, porém, para avaliar o que foi o processo de Me Morreria Se Você Fosse, peça que teria sido a minha Direção V no ano de 2008, mas que não foi.
Acho que eu me perdi desde muito cedo. Em contextualizações e em conceitos teatrais que não me serviram nunca, em nenhum momento do processo. Eu demorei a entender que tudo se construía mesmo nos ensaios. E que o trabalho de casa era feito a partir da vivência ali, com os atores. Muitas vezes senti que enrolava, como se isso fosse me salvar da imensa dificuldade que é dirigir um espetáculo. No entanto, em muitos momentos, devo dizer, me surpreendi percebendo o quanto confiava em minhas intuições. Em momentos que inclusive eu e os atores jogávamos tudo fora para começar do zero. O mais importante foi perceber como o redor se mobiliza para saber de tudo. Mais do que isso, foi importante ver como isso acontece ainda mais quando nós abrimos os braços. Ou seja, eu fui muito aberto, não guardei nada, todo mundo sabia de tudo, todo mundo me esperava. Isso gera uma falsa sensação de bondade, isso aumenta a espera pelo tombo. Não posso mais fazer isso. Meu trabalho agora é como filho. Seus meses comigo são todos intra-uterinos. Não posso expor nada até o momento em que venha a nascer. Na estréia, esse é o momento, em que meu filho deixa de me ser e passa a flertar com tantos outros que existem por aí. Uma metodologia que possa seguir. E não uma que se reinvente a cada ensaio. Clareza para coordenar equipes de figurino, cenário, isso e aquilo. Sobretudo, clareza para cortar do projeto aqueles que não servirem de nada. Ou seja, o meu cronograma tem que ser respeitado. E esse trabalho de construção de cenário e figurino – eu preciso acreditar e executar – pode ser muito anterior a todas as outras coisas. A estréia é com os atores, mas figurino e cenário, muito antes. Outra coisa: não prometer. Não dizer nada que extrapole o dia presente. Não dá para prever a quantidade de problemas e intermédios que virão pela frente, portanto, não jogar com o inseguro. O não saber é, às vezes, o que pode haver de mais sábio.
Última coisa. Eu estava fumando, desde o ano passado. Por motivos de saúde, não posso, não posso, eu preciso acreditar. Comecei esse ano sem fumar, mas voltei do nada, e não consigo fumar um, ou dois, eu compro logo um maço e daí as coisas vão se perdendo. Logo, a fim de acabar logo com essa história, eu joguei sujo comigo mesmo. Fiz uma promessa – não sei se é esse o nome – mas disse a mim mesmo que voltar a fumar colocará em risco a minha integridade com os estudos de PDD. Ou seja, caso volte a fumar, o que estarei colocando em risco é justamente o meu trabalho. Portanto, devo segurar, porque se alguma coisinha der errado, eu vou saber, foi porque eu fumei. E olha que eu acredito nessas coisas. Um motivo para seguir.
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